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A controversa estreia dos Peppers em Brasília

Banda Black Summer

Por Marcos Pinheiro
Fotos dos integrantes RHCP: Marcos Silva
Vídeos: Marcos Pinheiro

“1h30 só? É isso mesmo?”
“Esse show acabou cedo pra todo mundo ou só pra mim que paguei meia?”
“Os caras tocam um monte de músicas ‘away’ e deixam de fora vários sucessos”
“Ouvir ao vivo “Wet Sand” foi realização de sonho total”
“Não esperava “I Could Have Lied” no lugar de “Under The Bridge”. Perfeito!”
“Eles voltam quando? Vão ter que tocar pelo menos mais 15 minutos pra cobrir o que faltou”
“Foi bem “marromeno”. Anthony Kieds não tem mais fôlego e erra o tempo da música. Set list bem chatinho. Mas o Flea e o Frusciante são sensacionais, fazem o show valer um pouco a pena”
“Caramba, eles tocaram “Throw Away Your Television”!”
“Acho uma banda muito superestimada com três discos engraçadinhos e nada mais”
“Achei que o show foi feito pra mim. Tocaram “Soul to Squeeze”, “I Could Have Lied”, “Pea”, “I Like Dirt”… Saí muito feliz de ver esses caras ao vivo, era algo que eu queria assistir há muito tempo”
“Eles parecem sempre se divertir, mas fica aquela interrogação no público”

A estreia em Brasília do Red Hot Chili Peppers, ontem à noite (7/11), no Estádio Mané Garrincha/Arena BRB, foi no mínimo “controversa”. Ingressos esgotados nas vendas oficiais, mais de 40 mil pessoas presentes, expectativas a mil e, ao final, frustrações e opiniões divididas. Vale tentar explicar aos “desavisados” o que aconteceu. E já afirmar de prontidão: achei o show ótimo, mesmo que realmente curto (com 1h40, na verdade) e com algumas faltas – talvez diferentes das que a maioria do público sentiu.

KiedisCom tantos sucessos radiofônicos acumulados ao longo de 13 álbuns em quase 40 anos de carreira, dava para montar facilmente dois set lists e deixar todos os fãs felizes. Mas os Peppers se permitem ousar, algo raríssimo em bandas que estão nesse patamar. Mexem bastante no repertório a cada apresentação – somente cinco músicas se repetiram do show anterior, no Rio de Janeiro, como publicamos aqui -, deixam de fora vários “hits” em troca de momentos mais “obscuros”, improvisam, fazem “jams” no palco… E interagem bem pouco com o público. Há muito tempo tem sido assim. Mas vários não sabem disso. E vão embora reclamando.

FleaO próprio público dos californianos é bem diversificado. Tem a turma “roots”, que acompanha os caras desde meados dos anos 1980 – e que se ressentiu da ausência de músicas dos quatro primeiros discos, em especial de “The Uplift Mofo Party Plan” (1987) e “Mother’s Milk” (1989). “Me & My Friends” é a única que às vezes aparece, mas ainda não nas duas apresentações brasileiras dessa turnê “Global Stadium” que, depois do Rio e Brasília, seguirá para São Paulo (sexta-feira), Curitiba (próxima segunda-feira) e Porto Alegre (dia 16). Já a galera, digamos, mais “playboy” estava ávida para ouvir o que rola aos montes em rádios, videoclipes e plataformas de streaming.

FruscianteAnthony Kiedis, Flea, Chad Smith e John Frusciante até tentam agradar os dois lados – mas da maneira deles. No início do show, às 21h05, os Peppers surgem, ainda sem o vocalista, para uma “jam session” instrumental. Muita ousadia, né? Daí “compram” a audiência com a trinca “Around the World”, “Scar Tissue” e “Dani California” e ainda emendam com “Universally Speaking”, faixas de “Californication” (1999), “By the Way” (2002) e “Stadium Arcadium” (2006), cujas músicas dominaram o set. Todo a plateia animada e cantando junto.

Nas nove(!) músicas seguintes, no entanto, o fervor foi baixando – pelo menos para a maior parte. Três momentos de “Unlimited Love” (“Aquatic Mouth Dance”, “These Are the Ways” e “Whatchu Thinkin’”), um dos dois álbuns lançados pelos Peppers em 2022, se mesclaram a resgates como a belíssima “Soul to Squeeze” (single de 1993) e às menos conhecidas “Throw Away Your Television”, “I Like Dirt” e “Wet Sand”, num outro revezamento entre os três discos que saíram entre 1999 e 2006. A maior surpresa foi “Pea” (de “One Hot Minute”, 1995), cantada pelo baixista Flea. O único “hit” nesse ínterim foi “Tell Me Baby”, de “Stadium Arcadium”. Curioso: o outro trabalho do ano passado – “Return of the Dream Canteen” – foi completamente ignorado nesse show.

Era perceptível um certo incômodo entre os presentes. O tempo ia passando e vários sucessos sendo deixados de lado. “Californication” veio para dar uma temperada nos ânimos, seguida por outra de “Unlimited Love” (“Black Summer”, com fortes projeções em vermelho) e “By The Way”. Não sem antes o guitarrista John Frusciante arriscar cantando um trecho de “Terrapin”, de Syd Barrett (ex-Pink Floyd), zoado pelos companheiros de banda. Os Peppers parecem se divertir com essa alternância. E fazem poucas concessões ao vivo, mesmo tendo ganhado muito dinheiro com os mais de 120 milhões de discos vendidos desde 1984.

Chad SmithPausa para um breve intervalo de três minutos e, na volta, o aclamado álbum “Blood Sugar Sex Magik” (1991) finalmente foi lembrado em duas músicas: a ótima “I Could Have Lied” – que substituiu, para decepção geral, a clássica “Under the Bridge”, presente na maioria das apresentações – e a indefectível “Give it Away”. E foi isso. Anthony Kiedis e John Frusciante deixaram o palco praticamente sem se despedir. Flea ainda se agachou e fez um sinal de agradecimento. Só o baterista Chad Smith interagiu jogando as baquetas e brincando com a plateia.

Claro que o show deveria ter meia hora a mais, pelo menos. E incluir músicas principalmente do início da carreira. Talvez esteja faltando um pouco de energia aos Peppers, quase todos sessentões, em especial para o “pouco comunicativo” Anthony Kiedis. Mas Flea e Frusciante continuam formando uma dupla “monstruosa” de músicos. Foi um privilégio vê-los novamente ao vivo – para mim foi a quinta vez – e finalmente em Brasília, após quase 31 anos da primeira vinda ao Brasil. Lamento pelos que se frustraram.

IrontomP.S.: Aos que chegaram em cima da hora, vale avisar que rolou show de abertura com a também californiana IronTom, que tem entre os seus integrantes o guitarrista Zack Irons, filho de Jack Irons, baterista original dos Peppers. Os caras estão na estrada desde 2012, mesclam pós-punk e toques de psicodelia, mas confesso que nunca tinha ouvido falar. O vocalista Harry Hayes é bastante animado, procurou conquistar o público e ainda mandou uma versão de “Feel Good Inc.” (Gorillaz) num set de 45 minutos. Nada demais.

SET LIST
Intro Jam
Around the World
Scar Tissue
Dani California
Universally Speaking
Aquatic Mouth Dance
Soul to Squeeze
Throw Away Your Television
I Like Dirt
Wet Sand
Pea
These Are the Ways
Tell Me Baby
Whatchu Thinkin’
Californication
Black Summer
Terrapin
(Syd Barrett)
By the Way
BIS
I Could Have Lied
Give It Away

6 comentários sobre “A controversa estreia dos Peppers em Brasília

  1. Excelente post! Feliz demais em ver o RHCP pela primeira vez, e conformado com o fato deles não terem tocado muitas músicas que eu esperava assistir ao vivo. rsrs

  2. Quanto a não tocar hits “antigos”, sem problema. Gostei de ouvir as musicas novas e vê-los em plena forma. O que me chateou foi a péssima qualidade do sistema de som, que não estava a altura da banda. Pagar um ingresso caro para um show desse porte e não conseguir ouvir direito o vocal do Kiedis é que foi ruim. A voz ficou “cortando” tanto que nem parecia ser ele, sem falar no som dos instrumentos que ficou prejudicado. Parecia som de caixas estouradas. Já vi produções muito melhores em Brasília.

  3. Gostei muito do show! Até concordo que poderia ter sido maior, mas o que apresentaram foi o suficiente para animar muito o público. E pra uma banda com tantos hits, alguns invariavelmente serão deixados de fora, é normal. Foi a primeira vez que vi a banda.

  4. Achei o show otimo. Nao entendi a resenha! Ruim foi nao atender a expectativa dos playboys ou por cagarem pros playboys e por terem tocado musicas que os playboys não conhecem?

  5. A ideia da resenha foi justamente mostrar esse contraponto entre os públicos do RHCP, Rodrigo. E reforça que a banda adota essa postura e que tá tudo certo. O texto deixa claro tb que gostamos do show e faz apenas algumas ressalvas quanto à duração e que o repertório poderia incluir mais músicas do início da carreira.

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