Revi Paul! Uma noite de Paul McCartney em Brasília!

Por Octávio Schwenck Amorelli
Fotos: Octávio Schwenck Amorelli e Marcos Hermes
Vídeo: Octávio Schwenck Amorelli

30 de novembro é um dia confuso em Brasília. Enquanto parte da cidade desfruta do feriado local, outra parte vive apenas mais um dia normal. Neste último havia risco de chuva, longos engarrafamentos de carros e filas de fãs se formando ao redor da Arena BRB Mané Garrincha para o início da série de shows da “Got Back Tour” no Brasil. Era notável a animação que preenchia esses mesmos espaços. A energia que pairava no ar era de surpresa e empolgação – afinal, 48 horas antes, Paul McCartney performou um show surpresa no maior patrimônio da música brasiliense, o Clube do Choro.

Às 20h48 as animações sobre Paul e os Beatles que preenchiam os telões desaparecem, vemos os músicos subindo ao palco, e a noite ganha um calor especial quando as 55 mil pessoas que lotaram a arena puderam ouvir o eterno Beatle, aos 81 anos de idade, saudar a plateia e preencher cada cantinho com “Can’t Buy Me Love” seguida de “Junior’s Farm”. Naquele momento estava claro que a noite se tratava de música pop em suas diversas camadas.

Ao falar com o público pela primeira vez, McCartney manda logo um “Boa noite, véi” e emendam-se os acordes de “Letting Go”, blues rock que apresentou ao público de Brasília, o naipe de metais tocando suas partes diretamente do último corredor de cadeiras inferiores em meio ao público. Ao se preocupar com esses detalhes de atenção, Paul e sua banda lotam o estádio com gentileza, energia e carisma, um ponto a parte do baterista Abe Laboriel Jr com suas danças e gargalhadas.

O set list com 39 canções se divide em momentos para empolgar, alegrar e emocionar. E, ao longo do concerto, se alternam, principalmente, canções dos Beatles e dos Wings. Em meio às conversas com o público com frases e palavras em português, Paul avisa que vai tocar uma música nova, parte do público se empolga imaginando se seria o momento de ouvir “Now and Then” ao vivo. “Pegadinha” ou não para alguns, ouvimos Rusty Anderson puxar em sua guitarra os primeiros acordes de “Come On to Me”, single de “Egypt Station”, álbum solo lançado em 2018.

O show entra em um momento entre o frescor e a nostalgia, com pitadas de hard rock setentista. McCartney vai pra guitarra e Brian Ray assume o baixo. Ouvimos um combo de “Let Me Roll It”, dos Wings, com “Foxy Lady”, de Jimi Hendrix. O palco passa por algumas transformações e a banda fica ainda mais próxima do público. Alguns minutos depois temos a primeira dedicatória da noite: Paul conduz seu show para emocionar em diversos momentos, dedica a canção “My Valentine” para Nancy Shevell, sua esposa. Depois presenteia o público com “Maybe I’m Amazed” e “I’ve Just Seen a Face”.

A faixa “In Spite of All the Danger”, gravada pelos Quarrymen há mais de 60 anos, dá o tom do que ainda está por vir. E nesse formato mais aconchegante, com Abe Laboriel Jr dançando e tocando sua bateria em pé, que o público ouve as faixas “Love Me Do” e “Dance Tonight”, um dos pontos mais divertidos da noite. McCartney é um artista completo, se reveza em diversos instrumentos e o faz mantendo sempre o astral lá em cima.

Sozinho no palco, uma plataforma se eleva e Paul chega à metade do show com um violão em mãos: é a hora de “Blackbird”… E tudo o que posso dizer sobre esse momento é que de fato é muito bonito ver e ouvir esse cara cantar.

Macca mantém sua voz em bom estado e a performance segue crescendo. “Here Today” é dedicada a John Lennon, que ainda seria lembrado em outros momentos da noite. Com uma versão em ukulele, George Harrison também foi homenageado em “Something” e, para a visão do autor desse texto, podemos considerar “Ob-la-di, Ob-la-da” como um tributo a Ringo Starr. Após essas lembranças, o show caminha para fim do primeiro ato com uma sequência imbatível: “Band on the Run”, “Get Back”, “Let It Be”, “Live and Let Die” e “Hey Jude” conduzem a Arena Mané Garrincha ao ápice, com direito a lasers, fumaça, fogos e 55 mil vozes em coro.

Após 32 músicas, ainda não chegamos ao final. A banda sai do palco para tomar uma água e volta rapidamente. O telão se acomoda atrás dos músicos e, mesmo que apenas em vídeo, vemos a dupla Lennon-McCartney dividir as vozes em “I’ve Got a Feeling”. A seguir,  como uma máquina de distribuir alegria, Paul dedica a faixa “Birthday” a todos no público que estivessem comemorando aniversário no dia. O bis é uma sequência para nenhum fã de Beatles botar defeito. A banda encerra a noite com “Sgt. Pepper’s”, “Helter Skelter”, “Golden Slumbers” e “Carry that Weight”.

A energia contagiante, a maestria musical e a conexão única que McCartney estabeleceu com o público foram testemunhas da atemporalidade de sua música. Ao revisitar clássicos dos Beatles, apresentar músicas dos Wings e proporcionar momentos emotivos dedicados a John Lennon, George Harrison e à esposa Nancy, ele não apenas reviveu o passado, mas moldou uma noite memorável para o presente.

É deslumbrante se inebriar com a imensidão das músicas de Paul McCartney. As marcas temporais são o que menos importam nessas canções, que conseguem proporcionar alegria e esperança – talvez o que seja mais necessário nesses tempos fraturados. E ainda bem que, após essas 2 horas e 39 minutos, McCartney encerra o show com “Até a próxima”. O carisma, a criatividade e a gentileza desse homem são uma lição importante para  centenas de outros artistas. Aos 81 anos, com mais de 60 anos de carreira, Macca reina em qualquer palco.

SET LIST
Can’t Buy Me Love (The Beatles)
Junior’s Farm (Wings)
Letting Go (Wings)
She’s a Woman (The Beatles)
Got to Get You Into My Life (The Beatles)
Come On to Me
Let Me Roll It/Foxy Lady (Wings/Jimi Hendrix)
Getting Better (The Beatles)
Let ‘Em In (Wings)
My Valentine
Nineteen Hundred and Eighty-Five (Wings)
Maybe I’m Amazed
I’ve Just Seen a Face (The Beatles)
In Spite of All the Danger (The Quarrymen)
Love Me Do (The Beatles)
Dance Tonight
Blackbird (The Beatles)
Here Today
New
Lady Madonna (The Beatles)
Fuh You
You Never Give Me Your Money (The Beatles)
She Came in Through the Bathroom Window (The Beatles)
Jet (Wings)
Being for the Benefit of Mr. Kite! (The Beatles)
Something (The Beatles)
Ob-La-Di, Ob-La-Da (The Beatles)
Band on the Run (Wings)
Get Back (The Beatles)
Let It Be (The Beatles)
Live and Let Die (Wings)
Hey Jude (The Beatles)
Bis
I’ve Got a Feeling (The Beatles)
Birthday (The Beatles)
Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise) (The Beatles)
Helter Skelter (The Beatles)
Golden Slumbers (The Beatles)
Carry That Weight (The Beatles)
The End (The Beatles)