Por Marcos Pinheiro
Fotos: Abelardo Mendes Jr.
O que dizer sobre The Sisters of Mercy em pleno 2019? Melhor: o que escrever sobre uma banda que há mais de 26 anos se recusa a lançar algo novo? O discurso de revolta contra a indústria fonográfica podia soar heróico naquela época em que o mercado musical dependia de gravadoras. Mas com o crescimento da cena independente, a explosão da Internet e a proliferação das redes sociais, esse papo deixou de “colar” faz muito tempo. Andrew Eldricht, o dono da bola desde sempre, deitou nos louros da ótima fase, entre 1982 e 1993, que rendeu três discos de estúdio – “First and last and always” (1985), “Floodland” (1987) e “Vision thing” (1990) -, três EPs e vários singles. E se acomodou com isso.
Lógico que o Sisters não é exceção: infelizmente várias bandas fazem o mesmo, todos sabemos. Uma preguiça produtiva que conta com a indulgência dos fãs, góticos ou nem tanto, em sua maioria acima dos 40 anos. Foi nesse clima que a banda inglesa se apresentou na última quarta-feira (6/11) no Toinha Brasil Show, na segunda vinda a Brasília, 29 anos depois. Se em outubro de 1990, no auge, eles fizeram show para mais ou menos 50% da lotação da extinta (e histórica) boate Zoom – lamentei demais não poder ter ido naquela vez -, não se podia esperar muito mais agora: em torno de 600 pessoas estiveram presentes no espaço situado no Setor de Oficinas Sul dispostas a pagar entre R$ 100 e R$ 200.
Eram 22h47 quando subiram ao palco Andrew Eldritch escudado pelos guitarristas Ben Christo e Dylan Smith e amparado pela bateria eletrônica comandada por Ravey Davey, quase escondido lá no fundo. A primeira parte foi uma completa decepção técnica. A característica voz grave de Eldricht sumia em meio aos instrumentos. As linhas de baixo, tão essenciais para a sonoridade do estilo, soavam tênues na ausência de um humano tocando e não eram compensadas pela programação eletrônica. Tinha gente dizendo que tudo não passava de playback. Confesso que prestei bastante atenção e não pareceu ser – ou eles enganaram direitinho. Mas faltava pressão, impacto, aquela batida no peito gostosa e intensa que a gente sente quando está lá bem em frente ao palco. Dava para ouvir as pessoas conversando tranquilamente ao lado. O cantor demonstrou irritação com os problemas agravados pela microfonia nas duas primeiras músicas. Horrível! Como esclareceu a direção do Toinha, toda a montagem do palco e PA foi de responsabilidade dos técnicos de som da banda.
A partir de “Dominion/Mother Russia” – cantada com devoção pela “turma do gargarejo” -, a oitava música de um set de 18 (confira mais abaixo), a voz “apareceu” com mais nitidez. Christo e Smith se empenhavam nos backing vocals e faziam malabarismos e solos com as guitarras para arrepio do público (sobretudo) feminino. Mas ainda não existia a tal pressão que, de verdade, só veio mesmo no bis. Já era tarde demais. Os vários sucessos no repertório foram tocados em grande parte de forma protocolar, alguns com tempo reduzido em relação à versão original. “Marian”, por exemplo, veio em arranjo diferente, quase não deu para reconhecer no início. E faltaram “Walk away” e “Black planet”, entre outras, que Eldricht se recusa a apresentar há anos.
A se destacar o belo jogo de luzes e sombras, na qual o cantor, completamente careca e de óculos escuros, demonstra total domínio em cena. 0h10 e acabava o show aos últimos acordes de “This corrosion”. Foi minha segunda experiência ao vivo com o Sisters (a primeira rolou em 2012, em São Paulo)… e a segunda decepção. Claro que agora valeu bem mais pela companhia dos muitos amigos. Mas muito longe de ter sido algo “inesquecível”. A turnê brasileira segue com mais três shows: hoje (8/11) em Curitiba, amanhã em São Paulo e domingo no Rio de Janeiro. Tomara que lá não aconteçam tantos problemas técnicos que, na minha opinião, derrubaram a apresentação brasiliense.
Set list
. More
. Ribbons
. Crash and Burn
. Doctor Jeep / Detonation Boulevard
. No Time to Cry
. Alice
. Show Me
. Dominion/Mother Russia
. Marian
. Better Reptile
. First and Last and Always
Instrumental
. Something Fast
. I Was Wrong
. Flood II
Bis
. Lucretia My Reflection
. Vision Thing
. Temple of Love
. This Corrosion
Olá, sugiro uma correção. Chris Catalyst saiu da banda em junho de 2019. Além do anuncio do próprio guitarrista no twitter, houve reportagem no site slide-line.com em 4/06/19. Em resumo, a banda conta com novo guitarrista, totalmente desconhecido pelo público.
Correção feita: o nome do guitarrista cabeludo é Dylan Smith. Valeu!