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Rock in Rio 2017 (22/9): a “redescoberta” do Tears for Fears

Tears for Fears 2

Por Marcos Pinheiro
Fotos: Rock in Rio/Divulgação

Rio de Janeiro – Sexta-feira, 22 de setembro. Como a gente faz quando se vê obrigado a encarar duas bandas que você acha extremamente chatas? Foi esse o maior desafio que tinha pela frente no quinto dia de programação do Rock in Rio 2017, o segundo da cobertura do Cult 22/Cultura FM: assistir os mineiros do Jota Quest e os norte-americanos do Bon Jovi. Missão árdua, viu? Para compensar, o dia foi de reencontrar a ainda em forma dupla inglesa Tears for Fears. Mas vamos comentar sobre isso mais abaixo…

A maratona começou no meio da tarde, no Palco Sunset, onde o jovem grupo carioca Sinara, formado por filhos e netos de Gilberto Gil, abriu os trabalhos com um reggae de temas afro tendo como convidado o baiano Matheus Aleluia, ex-integrante de Os Tincoãs. O veterano cantor e compositor tinha feito 74 anos na véspera e foi devidamente reverenciado com um “parabéns pra você” convocado pelos anfitriões. Ex-morador da Rocinha, o bom vocalista Luthuli Ayodele aproveitou a oportunidade para lamentar os conflitos que estão ocorrendo na famosa comunidade carioca invadida pelo Exército por conta da guerra do tráfico de drogas. Show correto em esquema “good vibe” próprio para uma tarde de sol.

Baiana System + TiticaNa sequência o “furacão” chamado Baiana System. Difícil definir o estilo musical daquele combo de músicos liderado pelo articulado Russo Passapusso. No “caldeirão” de estilos tem ragga, reggae, guitarra baiana, eletrônica, funk, hip hop… e até rock – mais na atitude do que necessariamente no som. A primeira impressão que tive quando os vi, em abril passado, no Festival Tenho Mais Discos que Amigos (Brasília), foi semelhante a da Nação Zumbi nos tempos de Chico Science, lá por 1994, 1995: a plateia fica contagiada e pula enlouquecidamente como num carnaval em Salvador. Particularmente não gosto tanto deles como da rapaziada pernambucana. Mas o fato é que eles agitam… e muito! Como convidada, a cantora transsexual angolana Titica (assim mesmo!), musa do ritmo kuduro.

O Grande EncontroO Palco Sunset prosseguiu com o show de O Grande Encontro, o trio formado pelos veteranos Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo com as participações da Banda de Pífanos Zé do Estado e do grupo Grial de Dança. No repertório, sucessos diversos dos artistas principais: “Anunciação”, “Papagaio do futuro”, “Dia branco”, “Chão de giz”, “Morena tropicana”, “Frevo mulher”… Uma grande festa nordestina!

Ney Matogrosso e Nação ZumbiO verdadeiro “grande encontro” do segundo palco do Rock in Rio viria em seguida: Nação Zumbi recebendo Ney Matogrosso. Segundo o produtor e curador do espaço, Zé Ricardo, esse show tinha sido pensado há dois anos, ainda na edição passada do festival. Havia uma natural expectativa do público em ver como seria aquela união entre a poderosa voz e performance do cantor sul-matogrossense, 76 anos, e a percussão pesada do grupo pernambucano. O resultado foi irregular. O set list foi bem planejado ao resgatar músicas dos Secos & Molhados (“Mulher barriguda”, “Amor”, Assim assado”, “Sangue latino”, Rosa de Hiroshima”), inserir algumas da Nação Zumbi – com direito à bela homenagem ao falecido Chico Science em “Um sonho” – e tocar a já conhecida versão de “Maracatu atômico” (Jorge Mautner), além de “Refazenda” (Gilberto Gil). Tecnicamente, porém, algumas coisas não funcionaram. A voz de Jorge Du Peixe, grave e mais “contida”, batia de frente com a de Ney, aguda e de maior alcance. Ney, por sua vez, pareceu pouco a vontade ao cantar as letras da Nação. Faltou mais entrosamento. Talvez funcione melhor em disco. Valeu de qualquer forma pela iniciativa.

PALCO MUNDO
Após a tradicional chuva de fogos de artifício, o principal palco do Rock in Rio foi aberto na sexta-feira pelo Jota Quest. E a dura missão descrita no início desse texto tomou forma. Não dá, não consigo ver graça naquele pop “xarope”, de letras tolas, com aquela “voz de pato” de Rogério Flausino. Nada contra o pop em si, gosto de vários artistas/bandas do gênero – Lulu Santos é um exemplo, inclusive homenageado pelos mineiros com versão para “Tempos modernos”, a segunda do set. Sucessos, claro, não faltam. Parodiando a letra de “Fácil”, foi tudo “chato, extremamente chato”. O público estava lá, cantando e dançando juntos. Eu que devo estar errado.

Alter BridgeNuma guinada radical, a atração seguinte foi a pesada banda norte-americana Alter Bridge, formada por dois ex-integrantes do Creed e liderada por Miles Kennedy, mais conhecido no Brasil por ser o vocalista nos dois mais recentes discos solo de Slash. Cheguei a pensar, inclusive, que o guitarrista do Guns n´Roses iria dar uma “palhinha” no show – algo que Joe Perry (Aerosmith) já tinha feito na véspera com Alice Cooper, reeditando um pouco da parceria do projeto Hollywood Vampires. Depois de tanto pop e ritmos diversos, o rock voltou finalmente ao festival e em altos decibéis. Os caras tocam com as guitarras no talo e, mesmo ainda sem grandes sucessos, chamaram a atenção em músicas como “Come to life” e “Cry of Achilles”. Muito bom!

Tears for Fears 1O grande show da noite, para mim, veio logo depois. O Tears for Fears se notabilizou por músicas de elaborados arranjos e construção vocal. Tem bastante apelo pop, mas com pegada rock e resvalo no indie. Em alguns momentos emula os Beatles na fase psicodélica. Os três primeiros discos estão entre os melhores dos anos 1980. Foi dali que a dupla Roland Orzabal e Curt Smith ganhou projeção e colecionou sucessos. E todos eles – exceção da balada “Woman in chains” – estiveram presentes: “Sowing the seeds of love”, “Advice for the young at heart”, “Mad world”, “Pale shelter”, “Head over heels”, “Shout” – com direito à sombria versão da cantora Lorde para “Everybody wants to rule the world” apresentada como introdução antes da banda propriamente dita tocá-la ao vivo. Ainda teve a versão de “Creep” (Radiohead), já costumeira no repertório dos “Tias Fofinhas”. O que fez valer a pena foi perceber que os dois continuam com voz cristalina e tocando perfeitamente. Foi emocionante vê-los de novo e em tão boa forma!

Bon JoviE aí veio o Bon Jovi… o que dizer? Quem me conhece, sabe de minhas “prevenções” contra o hard rock: muita “firula” entre guitarristas, cantores “poser”, baladas açucaradas que doem no dente. Uma “farofada” que considero enjoativa e datada na maior parte das vezes. Claro que levo em consideração a boa qualidade técnica dos músicos. E faço minhas exceções – caso do Aerosmith, que tocou na véspera. Mas esse grupo da cidade de Nova Jersey, quase 35 anos de estrada, em nada consegue me comover. É quase com um “Maroon 5 do hard rock”. Não gostava nem do início, de sucessos como “Living on a prayer” e “You give love a bad name”. Chego a questionar – maldade minha, confesso – se os caras fariam tanto sucesso se não fosse pelo dublê de galã e vocalista Jon Bon Jovi. As meninas continuam pirando nesse agora “senhor” de 55 anos. Assim como o Jota Quest, estavam todos cantando e adorando. Era estádio lotado com torcida toda a favor, absoluto “jogo ganho”. Mas, como dizia o polêmico dramaturgo e crônica Nelson Rodrigues, “toda unanimidade é burra”. Então, fico tranquilo em ser “do contra”.

Acompanhe a cobertura do Cult 22/Cultura FM no Rock in Rio 2017:
www.cult22.com
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