O charme, o encanto e o talento da francesa ZAZ

Por Paola Antony
Fotos: Lyanna Soares

Brasília recebeu pela primeira vez, na última sexta-feira (31/3), a cantora francesa ZAZ com o show “Mise en Scéne”. Apesar da forte chuva e do enorme congestionamento em torno do NET Live Brasília, quase 2.600 pessoas marcaram presença. Curiosa a conferir o talento da moça, que é fenômeno na internet e aclamada internacionalmente, lá fui eu. Fui também porque gosto de suas canções, de seu jeito e sua voz. Eu a conheci há quase cinco anos, ocasião em que comecei a produzir e apresentar o programa “Cultura no Mundo” – no ar de segunda a sexta-feira, das 7h às 8h, pela Rádio Cultura FM (100,9MHz). ZAZ foi uma das primeiras a compor o acervo do programa.

Em meio a este cenário de alívio e caos promovido pela bendita chuva, começou o show da cantora francesa, batizada Isabelle Geoffroy. Eram 22h20 e eu ainda estava presa no tal congestionamento, observando com certa perplexidade, da janela do Uber, o alvoroço que movimentava a rua de acesso à casa de shows, repleta de vendedores a oferecer capas de chuva. Logo me juntei aos muitos que saltaram dos carros e seguiram a pé, embrulhados nas tais capas de plástico transparente. Entrei com ZAZ e banda já em plena performance e logo vi que a moça dança de um jeito solto, como qualquer um de nós, felizes em uma pista de dança. Sem tirar os olhos do palco, me desfiz da capa de chuva, garanti uma cerveja e encontrei um lugar em meio à multidão ainda em movimento de entrada.

No palco estava uma grande banda com teclado, bateria, percussão, baixo elétrico e contrabaixo acústico, sanfona e dois violões (como esses de ciganos) e vídeos com projeções do designer francês Laurent Seroussi. No meio deste arsenal musical estava ZAZ com vestido curto, estampado e solto, desses que imagino colorir as areias do verão francês. A atual musa européia constrói pra si uma imagem que difere muito das divas do pop americano repletas de sensualidade. Com 36 anos, a cantora aposta em um feminino sem apelos e, por isso mesmo, encantador. Ela se garante na espontaneidade, no entusiasmo. Conversa muito com a plateia – inclusive, do que meu francês conseguiu captar, ela sugeriu colocarmos em prática as “loucuras” que desejamos ver acontecer. Mas ZAZ impressiona mesmo é cantando. Canta muito, sem medo e sem trégua do início ao fim do show, além de ser intérprete sensível. Sua voz grave e rasgada é melhor ao vivo do que nos discos, talvez porque no palco a gente possa vê-la inteira, corpo e alma em seu transbordar de simpatia e alegria.

O repertório do show incluiu sucessos de seus três álbuns: “ZAZ” (2010), “Recto Verso” (2013) e “Paris” (2014). E foi montado de forma diversificada ao intercalar estilos, ora com músicas mais puxadas pro rock, ora com nuances eletrônicas, ora com as tais canções francesas. Os instrumentos e músicos, excelentes, também se revezaram, e todos no palco se mostraram versáteis. As imagens projetadas, muitas delas em desenhos, ilustraram o charme francês com seus telhados, ruas e luzes. O ponto alto foi mesmo a canção “Je veux”, a mesma que a consagrou e que, pra minha surpresa – e talvez a dela -, quase todos ali sabiam cantar, da primeira à última sílaba (sem essa de entoar apenas o refrão).

Logo em seguida, entrou no palco a representante da Escola Janela, instituição de ensino comunitária e inclusiva, localizada no município de Cavalcante (GO), que destina 50% de suas vagas a crianças de famílias com baixa renda e em situação de fragilidade social. A escola foi abraçada por ZAZ a partir de seu projeto ZAZIMUT (www.zazofficial.com/en/zazimut).

Após 1h40 de show, tudo estava certo. Um belo espetáculo com uma produção de primeira e, com o público já embriagado deste “glamour francês”, ZAZ voltou ao palco para o “bis” entoando em bom português o “Samba em Prelúdio”, de Vinícius de Moraes. Nem vou entrar em detalhes sobre a comoção… Vou só dizer que foi lindo! Brasília amou o show de ZAZ, que nos fez vivenciar um intercâmbio musical e cultural que vai além da língua inglesa.

Confira (em breve) álbum de fotos na página Lyanna Soares Photography