Por Marcos Pinheiro
Fotos: Lyanna Soares
A dúvida que pairou na noite de terça-feira (22/3) entre várias das 12 mil pessoas que lotaram o Ginásio Nilson Nelson, em Brasília, era: por que o Iron Maiden não tocou num espaço maior? Pelo fluxo de gente e a quantidade dos que ficaram de fora, dava pra imaginar que a produção poderia ter apostado num lugar tipo o estacionamento do Estádio Mané Garrincha – onde a banda, aliás, já tinha se apresentado na vez anterior, em março de 2011. Mas olhando pelo outro lado, é compreensível que, com o atual momento de grave crise, era mais viável financeiramente optar por um local fechado e sem necessidade de cercamentos e estruturas extras. E a logística funcionou muito bem, diga-se de passagem. A se lamentar apenas a quantidade de ingressos falsos vendidos (por cambistas ou pela Internet), que deixou muita gente barrada na porta do ginásio. Num momento em que o país brada pelo fim da corrupção na política e nos meios empresariais, eis aí um péssimo exemplo do quanto o brasileiro pratica atos ilícitos no dia a dia.
Aliás, a crítica política também se fez presente dentro do show. Enquanto esperava pelo Iron, uma parcela significativa do público entoou coros ofensivos à presidente Dilma Rousseff e ao PT. Mas o que interessava mesmo era a terceira vinda da banda inglesa à capital do Brasil – para mim foi a quinta vez que vi os caras, contando duas passagens pelo Rock in Rio (2001 e 2013). E quem conhece já sabe: não tem como não ser bom! A eficiência e perfeccionismo do sexteto e a energia contagiante de Bruce Dickinson, movendo-se freneticamente por todo o enorme palco, explicam porque eles têm tantos fãs pelo mundo e se tornaram uma lenda do heavy metal. Somam-se a isso os ótimos cenários e parafernálias teatrais, com caveiras e diabos infláveis, máscara de ferro, tochas, explosões e o indefectível monstrengo-mascote Eddie em suas sempre esperadas aparições – mesmo que rápidas – “trotando” entre os músicos.
Diante de todo esse espetáculo, pouco importa se as pessoas já vão sabendo o que o Iron Maiden vai tocar: o set list de 15 músicas foi exatamente o mesmo em todos os 11 shows até aqui dessa turnê da América Latina – a banda completa a “pernada” hoje (24), em Fortaleza, e sábado, em São Paulo. Também não interessa se Janick Gers é mais um acrobata cheio de “firulas” do que grande guitarrista. Às 21h16, quando as caixas de som começaram a tocar a introdutória “Doctor Doctor” (do UFO), o clima de expectativa era altíssimo. As luzes se apagaram, entrou o vídeo nos telões e o coro de “Olê, olê, olê, olê! Maiden, Maiden!” tomou conta do ginásio – e foi repetido várias vezes durante as quase 1h55 da apresentação.
Bruce Dickinson, vestindo um moleton preto com capuz, surgiu cantando If eternity should fail, do mais recente álbum “The book of souls” (2015), que permeia boa parte do repertório, com seis músicas. E aí mais um ponto positivo para o Iron: as novas músicas funcionaram muito bem, com destaque para o single “Speed of light”, a segunda do show. Mas alguns velhos “cavalos de batalha” também compareceram: “The trooper”, “Powerslave”, “Hallowed be thy name”, “Fear of the Dark”, “Iron Maiden” e o “bis” com “The Number of the Beast” e “Wasted years”. Outros tantos ficaram de fora… mas era o que tinham para o momento.
Ao longo da noite, o vocalista agradeceu o público (“Scream for me, Brasília!”), divulgou bastante o novo disco e deu ótima notícia aos fãs: o Ed Force One, o Boeing 747 da banda pilotado por ele, estava de volta aos ares após pequeno acidente sofrido em Santiago (Chile), em 12 de março, que danificou motores e carenagem. O avião, aliás, pousou no Aeroporto Juscelino Kubitschek na tarde de terça-feira, indo embora na manhã seguinte.
Se o Iron veio pela terceira vez, o Anthrax estava debutando na cidade. E a veteraníssima banda norte-americana de thrash metal promoveu um “aquecimento de luxo”. Às 19h52, com a pista já lotada e arquibancada e cadeiras com 90% da capacidade, os caras subiram com “Caught in a mosh” fazendo o público cerrar os punhos e cantar junto. Joey Belladonna, cheio de pose, falou da felicidade em estar pela primeira vez em Brasília. A banda levantou a bandeira do Brasil e o guitarrista/backing vocal Scott Ian dedicou a nova música “Evil twin” às vítimas do atentado terrorista ocorrido na Bélgica no mesmo dia. Brincaram com um rápido insert de “Run to the hills”, do Iron Maiden, e levantaram a galera com a introdução de “Refuse/Resist” (Sepultura) antes de “Indians” – oito músicas e 48 minutos de pauleira!
Não consegui chegar a tempo do show de abertura com a novata banda inglesa The Raven Age, que tem como guitarrista George Harris, filho de Steve Harris, baixista/dono do Iron Maiden.
Confira o álbum de fotos: por Lyanna Soares Photography
IRON MAIDEN: Set list
. If Eternity Should Fail
. Speed of Light
. Children of the Damned
. Tears of a Clown
. The Red and the Black
. The Trooper
. Powerslave
. Death or Glory
. The Book of Souls
. Hallowed Be Thy Name
. Fear of the Dark
. Iron Maiden
Bis
. The Number of the Beast
. Blood Brothers
. Wasted Years
ANTHRAX: Set list
. Caught in a Mosh
. Got the Time (Joe Jackson cover)
. Antisocial (Trust cover)
. Fight ‘Em ‘Til You Can’t
. Evil Twin
. Medusa
. Breathing Lightning
. Indians
Jonh Bush foi vocalista do Anthrax de 92 a 05, e de 09 a 2010. No caso, quem falou naquela hora foi o Scott Ian.
Desculpa, Raul. Ainda estava terminando de editar o texto e errei nessa. Já corrigido. Obrigado