Blog voltar
|

Camisa de Vênus e Ultraje se “acomodam” nos anos 1980

Camisa de Vênus 1

Por Marcos Pinheiro
Fotos: Lyanna Soares (Camisa de Vênus), Márcio Leal (set list), Agência O Globo (Ultraje a Rigor) e G1 (Rolling Stones)

Escrevi sobre o show dos Rolling Stones de sábado passado (20/2) no Rio de Janeiro – hoje (24) tem mais em São Paulo – e prometi falar em outro texto sobre a abertura do Ultraje a Rigor e mesclar com a presença do Camisa de Vênus em Brasília na véspera. Vamos lá…

Rolling Stones - Rio 2016 - 2Comentei sobre a preguiça dos Stones em não variar o repertório, né? Vou mais além: nos últimos 30 anos, Mick Jagger & Keith Richards lançaram apenas cinco discos de estúdio, a contar de “Dirty work” (1986). O último, “A bigger bang”, é de 2005! Desses, o único digno de figurar na rica história da banda foi “Voodoo lounge” (1994). Paralelamente, eles soltaram duas coletâneas – com poucas músicas inéditas – e vários registros ao vivo. Mas vejam: além do fato da obra construída nos anos 1960 e 1970 ser farta e sensacional, os caras hoje são septuagenários, bilionários e podem se dar ao luxo de não criar mais nada… e ainda fazerem shows espetaculares e com tesão!

Óbvio que traçar qualquer paralelo seria absurdo! Ultraje e Camisa nem de longe podem se comparar aos Stones em relevância e qualidade. Mas as duas bandas brasileiras já tiveram seus momentos de glória. O problema é que se acomodaram no sucesso dos anos 1980 e desistiram de “seguir em frente”… ou mesmo de se aposentar. O repertório é legal? Sim. Mas há anos soa datado e com “prazo de validade” vencido.

Camisa de Vênus 2Comecemos pelo Camisa. O show de sexta-feira no NET Live Brasília foi assistido por 400 pessoas no máximo. Triste. O ingresso custou R$ 80 (R$ 60 antecipados), nem podem dizer que foi “caro”. Às 23h30, Marcelo Nova e sua turma – da formação original resta ainda o baixista Robério Santana – subiram ao palco e tocaram por 1h40 os velhos cavalos de batalha: “Bota pra fuder”, “Hoje”, “Beth morreu”, “Gotham City”, “Só o fim”, “Muita estrela pra pouca constelação” (parceria com Raul Seixas), “O Adventista”, a divertida versão de “My way”, “Silvia”, “Eu não matei Joana D´Arc”… Estava tudo lá (veja o set list abaixo), mas a música mais nova é de… 1996! O resto era tudo dos anos 1980. O bom baiano Marcelo Nova, 64 anos, sempre debochado, declamava as letras sem gastar muito a voz – deixava isso para o público. Valeu para matar as saudades porque não assistia os caras há muuuitos anos. Provavelmente não me animarei a ver mais.

UltrajeO Ultraje eu não vi de tão perto. Estava nas cadeiras laterais à Pista Premium do Maracanã. E isso faz grande diferença numa abertura de mega shows. O som é muito menos potente, os telões não são usados e os caras ficaram parecendo formiguinhas produzindo zumbidos à distância. Para piorar choveu muito durante toda a apresentação, que começou com pequeno atraso (19h35) e durou 50 minutos. Os sucessos também estavam lá presentes. Aliás, pode-se dizer que o set é todo de “hits”, incluindo uma versão de “Long Tall Sally” (Little Richard) e a participação do veterano guitarrista Luis Carlini (ex-Tutti Frutti, Rita Lee e do próprio Camisa de Vênus). Mas é a mesma questão: todo o repertório se resume a três discos gravados entre 1985 e 1989 – principalmente o da estreia, “Nós vamos invadir sua praia”.

Muitos vão argumentar que show é para tocar os sucessos mesmo… e ponto. Nem discordo totalmente. Mas nesses dois casos acho que a “preguiça criativa” chega a ser cara de pau. É se limitar, se reduzir a um universo saudosista, não se arriscar a dar um passo a frente. Uma pena. No caso do Roger Moreira, nem vou entrar no mérito do bate-boca que rolou com um grupinho que estava na Pista Premium. Para mim palco não é palanque para ficar defendendo ou atacando governos e partidos, ainda mais diante de uma multidão que não está lá para isso – até porque vivemos um momento pavoroso em que não há nenhum “mocinho” na história. Também acho uma bobagem xingar ou ofender o artista por conta de suas posições políticas. Ele é um cidadão e tem direito a expressar opiniões. Você não precisa concordar. Se não gosta, ok. Vira de costas pro palco ou vai tomar uma cerveja. Intolerância não leva a nada.

Confira o álbum de fotos do Camisa de Vênus por Lyanna Soares

Set list Camisa de Vênus (NET Live Brasília, 19/2)
Camisa - Set list

Set list Ultraje a Rigor
(Maracanã, Rio de Janeiro, 20/2)

. Independente Futebol Clube
. Zoraide
. Inútil
. Filha da Puta
. Rebelde Sem Causa
. Mim Quer Tocar
. Sexo
. Pelado
. Long Tall Sally
(Little Richard)
. Ciúme
. Marylou
. Nada a Declarar
Jam session
. Nós Vamos Invadir Sua Praia

Um comentário sobre “Camisa de Vênus e Ultraje se “acomodam” nos anos 1980

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *

Você pode usar estas tags e atributos de HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <strike> <strong>