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Everyday is Like Sunday: Morrissey em Brasília

Morrissey 1

Por Marcos Pinheiro
Fotos: Lyanna Soares

Morrissey ainda canta sobre amor e dor como poucos. Na mesma balada, mantém o discurso afiado contra a coroa britânica e a cruel matança de animais com verve poética e lirismo que o tornaram, merecidamente, um ícone do britpop nos últimos 30 anos. Em torno dele há uma aura de culto até justificável. Aos 56 anos – e após um câncer no esôfago -, sua voz se mantém intacta. Tudo isso esteve presente na noite de domingo (29/11) na primeira (única?) visita a Brasília do cantor inglês em show que reuniu pouco mais de três mil pessoas no NET Live (Setor de Turismo Norte, ao lado do Bay Park).

Morrissey 2Mas por trás do ídolo, reverente e gentil com o público durante a 1h45 de apresentação que teve início às 21h30, há uma notória personalidade difícil. A começar pela impositiva proibição da venda de carne e derivados não somente dentro da casa de shows como também nos arredores. A ponto de ameaçar cancelar o evento se fosse desobedecido. Segundo apurou o colega jornalista Felipe Moraes, do site Metrópoles, horas antes a produção local fez rigorosa inspeção acompanhada por policiais militares. E ao verificar que diversas carrocinhas vendiam cachorro-quente, hambúrguer e churrasquinho – como de costume, aliás – ofereceu R$ 500 aos ambulantes para substituírem os produtos por opções vegetarianas.

Dentro do NET Live as exigências se estenderam à cobertura jornalística. Fotógrafos credenciados somente podiam fazer os registros das três primeiras músicas de longe, ao lado da house mix, em ângulos complicados e posição desconfortável. Era vetada a existência de bares na área Premium, todos ficaram nos fundos do salão. Por outro lado, as medidas provocaram uma nova configuração de divisão do espaço que favoreceu o público, deixando todos – inclusive os da pista comum – bem mais próximos do palco. Sem a barricada dos fotógrafos, Morrissey podia cumprimentar os fãs do “gargarejo” e até autografou uma capa do vinil do álbum solo “Bona Drag” (1990). Em arroubos de entusiasmo, tirou a camisa duas vezes e jogou para a plateia. O som estava muito bom, a circulação de pessoas e a sensação térmica também.

Morrissey 4A persona excêntrica obviamente se reflete no repertório que escolhe para cantar. Numa carreira marcada por grandes sucessos desde 1984, Morrissey quase sempre aposta no “lado B”. Logo, abrir o show com “Suedehead”, grande hit do disco solo de estreia, “Viva Hate” (1988), é uma honrosa e saudada concessão. Para um cara que já recusou propostas de milhões por um retorno – mesmo que breve -, The Smiths é definitivamente coisa do passado. Em Brasília ele cantou apenas três da ex-banda – entre elas a dançante “This Charming Man” abrindo o bis -, deixando de lado a emblemática e sensacional “How soon is now?” apresentada em São Paulo e no Rio. Frustrante. Mesmo de sua carreira solo, faltaram várias – e a lista pode variar pra cada um. Mas quem conhece sabe que ele é assim e já vai preparado.

Claro que entre as 23 músicas apresentadas rolaram outros sucessos: “Alma matters”, “First of the Gang to Die”, (a belíssima) “Everyday is Like Sunday”, “Jack the Ripper”, “You Have Killed Me”, a já citada “This Charming Man”, “I’m Throwing My Arms Around Paris”, “The Queen Is Dead”… O novo disco “World Peace is None of Your Business” (2014) foi contemplado exageradamente – como já havíamos antecipado aqui – com seis músicas: “Staircase at the University”, “World Peace is None of Your Business”, “Kiss Me a Lot”, “Earth is the Loneliest Planet”, “Kick the Bride Down the Aisle” e “The Bullfighter Dies”.

Morrissey 5O momento mais impactante coube a “Meat is murder”, faixa-título do segundo álbum do The Smiths (1985). O ativista vegetariano se assume de forma feroz expondo imagens chocantes da matança cruel de bois, porcos, frangos e peixes. Houve quem chorasse ou virasse de costas para não ver tamanha barbárie. Reproduzindo a letra, o telão exibia ao final: “Qual é a sua desculpa agora? Carne é assassinato!”. Pouco importa se o discurso teve efeito prático entre os presentes. Ele mandou sua mensagem.

O saldo é que Morrissey continua emocionando, mesmo que o repertório pudesse ser muito mais interessante e passeasse por mais fases de sua longa carreira. De qualquer forma foi uma honra tê-lo por aqui. Parabéns aos envolvidos!

Set list em Brasília (29/11)
. Suedehead
. Alma Matters
. Speedway
. Staircase at the University
. Ganglord
. World Peace is None of Your Business
. First of the Gang to Die
. Everyday is Like Sunday
. Kiss Me a Lot
. Earth is the Loneliest Planet
. Jack the Ripper
. You’ll Be Gone
(Elvis Presley)
. Kick the Bride Down the Aisle
. The Bullfighter Dies
. Yes, I Am Blind
. Meat Is Murder
(The Smiths)
. Now My Heart Is Full
. I Will See You in Far-Off Places
. You Have Killed Me
. Let Me Kiss You

Bis
. This Charming Man (The Smiths)
. I’m Throwing My Arms Around Paris
. The Queen Is Dead
(The Smiths song)

5 comentários sobre “Everyday is Like Sunday: Morrissey em Brasília

  1. bom texto parabéns, gostei muito do show o emblemático Morrissey mostrou que realmente é um ícone, e sobre o disco fui eu que entreguei a ele autografar, sendo que era de uma garota que tava ao meu lado, pena não ter tido oportunidade de levar os meus vinis kkkkk, que venham mais e mais shows , valeu cult 22.

  2. Quantidade de gay nesse show me deixou triste.
    Vejo, nitidamente, que Morris e Smiths eram uma banda dos jovens e, hoje, tá SEGMENTADA como banda de homossexual. Igual Madonna, que nem parece que quem promoveu ela de fato foram as mulheres que não eram roqueiras (10 vezes mais que os gays!).
    Muito diferente do A-ha e Roxette … onde, o público são os quarentões de hoje e diversos públicos mistos e de todos os jeitos. Não se segmentaram dessa forma. Chega era divertido o público dessas duas bandas nos shows … muito além do roqueiros de preto: pessoas normais.
    Houve uma re-significação do público e se perdeu que Smiths era de uma juventude … hoje, só é de gay. E isso não é preconceito, para estúpidos que não entendem a realidade e não saiam do Political Correctness. É um fato!
    Uma cantora oportunista que, agora, é totalmente voltada para o público gay é aquela rapper Carol Konká. Quem conhece ela do começo, sabe.
    Queria que Smiths e Morris fossem da juventude ainda … como A-ha e Roxette. Não são mais! Mas valeu pra quem viu pela primeira, segunda ou terceira vez. Enfim, só uma constatação de que os tempos mudaram e de que o passado em algumas de suas dimensões … foi esquecido e re-significado.

  3. A ignorância é mesmo uma benção!

    Os “leões dos teclados” saem digitando qualquer merda que lhes vem a cabeça,
    como uma verdade absoluta.

    Quer dizer que TODO o público do “Morris” é composto só de homossexuais no mundo todo?

    Aliás,quem é Morris???

    Como diria o próprio Morrissey: “The World is Full of Crashing Bores”!

  4. “Mas quem conhece sabe que ele é assim e já vai preparado.”

    Exatamente!

    Não fui ao show com expectativa que ele tocasse “There is a Light”,”Panic”,”Ask”,”I know it´s Over”,The Boy With…” e mais uma porrada de grandes clássicos dos Smiths porque ele nunca fez isso em toda sua carreira solo.

    Nas turnes do “Kill Uncle” e “Your Arsenal” não tocava sequer UMA música de sua antiga banda e mesmo assim os shows eram sensacionais!

    É lógico que eu gostaria muito que tivesse rolado “How Soon is Now” e mesmo “What She Said”(que rolou em outros shows da atual turnê) mas no final das contas o show foi excelente,na minha modesta opinião!

    Adorei ouvir “Yes I´m Blind” e “Now My Heart is Full” ao vivo,por exemplo !

    Faltaram várias de outras fases da carreira solo,mas como você bem colocou,cada fã tinha uma setlist na cabeça,então não dá para ficar se lamentando muito…

    ” Pouco importa se o discurso teve efeito prático entre os presentes. Ele mandou sua mensagem.”

    Sobre esta questão do ativismo vegetariano e proibição de venda de carne nos shows,por mais que alguns possam achar a medida absurda,a partir do momento que isto foi posto no contrato tem que ser cumprido!É assim em todos os lugares em que ele se apresenta.Ficar duas horas sem comer um espetinho não vai matar ninguém de fome!

    Para terminar,espero que um dia ele retorne a BSB mas se isto não vier a ocorrer,restarão as lembranças deste show inesquecível!

    Viva Morrissey!!!

    There is a Light That Never Goes Out!!!

  5. Cara, eu admito! Minha expectativa era Smiths! Mas…
    “Mas quem conhece sabe que ele é assim e já vai preparado.”
    E mesmo com expectativa, eu fui preparado.
    O cara é um ícone, e ponto! Valeu ter presenciado esse marco em Brasília.
    É claro, saí frustradíssimo por não ter ouvido “How soon is now?” apresentada em São Paulo e no Rio (Que inveja!). Mas é Morrssey…

    Ah! Quanto ao comentário anônimo acima… Quanta besteira! Como pode uma pessoa se prestar a escrever algo desse jeito em tantas palavras em um ambiente como esse que é o Cult 22. Putz! Dá próxima vez melhor ir curtir uma balada Axé ou um Sertanejo.

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