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Rock in Rio 2015: resumão do primeiro fim de semana

Cidade do Rock 2

Por Marcos Pinheiro
Fotos: Rock in Rio (oficial) e Marcos Pinheiro

O Rock in Rio 2015 começou a todo vapor no último fim de semana. Faz um calor de verão no Rio de Janeiro e a cidade respira os ares quentes do festival por todos os cantos. A logomarca do evento, que comemora 30 anos em sua sexta edição brasileira, está espalhada em cartazes, outdoors, bares, restaurantes, quiosques, lanchonetes… Não há nenhum outro festival – pelo menos de música – no Brasil com maior alcance de marketing.

Reflexo disso foi a rápida venda antecipada de ingressos e a lotada Cidade do Rock, que tem recebido 85 mil pessoas por dia. O trânsito entre os palcos fica bastante congestionado, sobretudo a partir do início da noite. Como ser humano, enquanto jornalista, venho me limitando a assistir somente os shows dos espaços principais, os palcos Mundo e Sunset. Chegar até a Rock Street é uma tarefa (ainda mais) hercúlea. Mas pretendo ir lá no próximo sábado (26/9) acompanhar os amigos do Autoramas.

SEXTA (18/9)
Donica + Arthur VerocaiCheguei bem cedo a tempo de ver a primeira banda do festival, a carioca Dônica, que abriu o Palco Sunset às 15h15. Uma mescla de rock progressivo com MPB. Curioso é que o maior chamariz – a presença de Tom Veloso, filho de Caetano – quase não é notado. O menino é tímido, tem vergonha de palco. Os garotos, com idades entre 17 e 19 anos, já conquistaram vários fãs, pelo menos tocando “em casa”. Como convidado, um veterano, o músico, maestro e produtor Arthur Verocai, 70 anos. Show “ok”.

Ira + Toni TornadoNa sequência veio o momento mais bacana do dia naquele espaço: o Ira! começou mandando sete músicas de seu repertório – “Dias de luta”, “Eu quero sempre mais”, “Núcleo base”, “Envelheço na cidade”, etc (“mais do mesmo”, mas sempre legal). Nasi está bem mais magro e sua voz falhou vez ou outra, mas a dupla com o guitarrista Edgar Scandurra continua funcionando, mesmo com os desfalques do baixista Ricardo Gaspa (substituído por Daniel Rocha, filho de Scandurra) e do baterista André Jung. A banda convidou o rapper Rapin´ Hood para dueto em “Ninguém precisa da guerra”. Mas o melhor ficou para o final: a participação de Toni Tornado, 85 anos, o “James Brown brasileiro”, que emocionou – e se emocionou – ao cantar a clássica “BR-3″. Com voz embargada, Toni chamou o filho e dançarino Lincoln Tornado – que estava nos backing vocals ao lado de Sandra Coutinho (ex-Mercenárias) – para completar os trabalhos. Rock, hip hop, soul e um discurso de defesa de igualdade racial.

Tributo a Cassia EllerO show do pernambucano Lenine foi bacana também. Era para ele ter se apresentado somente com a Nação Zumbi, mas tinham tantos convidados no palco que virou uma pequena celebração: Carlos Malta, Orquestra Rumpilezz, o holandês Martin Fondse, entre outros, que formaram o chamado “Projeto Carbono”. O set list foi mais em cima do novo disco, Carbono, lançado este ano. Para fechar o Sunset, uma homenagem a Cássia Eller que foi mais interessante pelas imagens da cantora projetadas no telão (na foto ilustrando a dobradinha de Zélia Duncan e Mart´Nália) do que pelos artistas que se apresentaram. Nando Reis naturalmente se destacou, já que é autor de grande parte do repertório de Cássia, morta em 2001. Decepcionante.

RiR 30 anosO Palco Mundo, sempre com início às 19h, foi aberto pelo bizarro show Rock in Rio 30 Anos. Uma prova de que “ecletismo” pode se tornar tornar algo intragável. Muitos artistas se reuniram para homenagear as três décadas do festival e virou um balaio de gatos. Depois de hits “pula pula” como “Pro dia nascer feliz”, “Vou deixar”, “Vem quente que estou fervendo” e “É proibido fumar”, comandados por Frejat, Samuel Rosa e Erasmo Carlos, o cantor e compositor Ivan Lins passou pelo constrangimento de cantar “Depende de nós” só na voz e piano. Claro que não funcionou numa arena lotada. Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, virou “arroz de festa” tocando com Blitz, George Israel, Paralamas do Sucesso, Ivete Sangalo (por que?), Jota Quest e Titãs. Mas também protagonizou um momento, digamos, “curioso” ao mandar “Ratamahatta” (do próprio Sepultura) ao lado de Dinho Ouro Preto (Capital Inicial) – o público não entendeu nada. Eu curti. Para “coroar” a bizarrice, o tema do Rock in Rio (“Se a vida começasse agora…”) foi tocado ao vivo. Desnecessário. Destaque para a presença sempre marcante de Ney Matogrosso. Ou seja, muitos altos e baixos.

QueenConfesso que passei batido pelo The Script (precisava comer, né?) e achei o OneRepublic beeem chato. Os caras até tocam bem e o vocalista tem carisma. Mas o som deles não me diz nada, parece comercial de refrigerante – como já cantava o gaúcho Humberto Gessinger. E aí veio Queen + Adam Lambert. Show difícil para analisar. De um lado está o inegável talento de Brian May (para mim um dos melhores guitarristas de todos os tempos) e de Roger Taylor e toda a grandiosidade do repertório – e tudo isso esteve lá presente. De outro, a impossível missão de substituir Freddie Mercury. Não odiei o Adam Lambert – nem amei. Acho que, se era para resgatar a banda no palco – e dentro do universo de possibilidades no momento -, ele é a melhor opção. Tem ótimas voz e postura de palco. A afetação (mais até que a do original) soou divertida. O tipo dele me lembra o George Michael, um dos grandes destaques daquele tributo que rolou em 1992 (já viram?). E Adam foi absolutamente reverente à obra do Queen, sem necessariamente querer imitar o antecessor. Além do mais, assistir o show ao lado de milhares de pessoas cantando sempre será mais emocionante que a frieza da audiência pela TV. Ainda mais quando Freddie apareceu no telão em “Love of my life” e “Bohemian rhapsody”. De chorar… de emoção, não de raiva, galera!

SÁBADO (19/9)
Os “camisa preta” tomaram conta da Cidade do Rock. Foi o primeiro dia de uma série de três dedicada ao som pesado. Cheguei um pouco atrasado, no final do show do Noturnall, projeto formado por ex-integrantes do Angra e Shaman – entre eles, o baterista Aquiles Priester. Mas não me pareceu que perdi muita coisa.

Angra + Dee SniderNa sequência do Sunset, o Angra, banda que tenta se reencontrar depois de perder vários integrantes e agora está se despedindo do guitarrista Kiko Loureiro, de partida para o Megadeth. Fiquei feliz, claro, pela presença do brasiliense Marcelo Barbosa (Almah e dono do GTR), o substituto. Mas não sei se eles vão durar muito mais. O set contemplou músicas dos tempos de André Matos e Edu Fallaschi e uma do novo vocalista, o italiano Fabio Lione. Chamaram a Doro Pesch para uma rápida participação e a musa alemã do hard/heavy rock deu o seu recado. Mas o grande momento foi a entrada de Dee Snider (Twisted Sister, foto), que roubou a cena totalmente cantando clássicos como “I wanna rock” e a inefável “We´re not gonna take it”. Estava chatinho e terminou bem divertido com ele. Total clima de celebração.

Ministry 2O Ministry veio em seguida para dar aula de rock industrial aos fãs do chamado “new metal”. Mesmo com desempenho abaixo do que já foi nos tempos em que tinha Paul Barker – que deixou o grupo em 2004 -, continua esporrento e com algo a dizer. Al Jourgensen, com aquele cara sequelada de maníaco psicopata, ainda segura a onda, nem que para isso tenha precisado do auxílio luxuoso de Burton C. Bell, vocalista do Fear Factory. Um discurso afiado contra o conservadorismo e a hipocrisia da sociedade nos Estados Unidos com ótimas projeções de imagens de George W. Bush, Osama Bin Landen e do canal Fox Life. Faltaram clássicos como “Stigmata” e “Jesus built my hot rod” – mas esses eles não vêm cantando há tempos.

De “pai para filho”, o Korn assumiu o Sunset sob a audiência de uma “multidão”. Um show com vários hits da carreira – “Blind”, “Got the life”, “Freak on a leash” -, mas que sinceramente não me atraem. O problema aí talvez seja comigo, pois a banda é competente no que se propõe a fazer, ícone mesmo dessa geração new metal. Valeu por ter sido a primeira vez que vi ao vivo.

Royal BloodIndo ao Palco Mundo, gostei do que consegui ver da francesa Gojira. Uma grata revelação da nova cena do death/thrash metal que me lembrou o Soulfly, de Max Cavalera – mas não sou o cara mais entendido no assunto. O grande destaque no espaço principal, sábado, foi o Royal Blood. Com apenas bateria e baixo – que faz as vezes também da guitarra – e um disco no currículo, o duo britânico mostrou som poderoso e levantou o público, que em sua maior parte não os conhecia. Com direito a mergulho do baterista Ben Thatcher na galera e insert de “Iron Man” (Black Sabbath) no encerramento. Sério candidato a troféu “revelação” do festival.

Motley CrueO Mötley Crue se despediu dos fãs brasileiros – essa é a última turnê mundial, segundo anunciaram – com tudo o que eles gostam: aquele hard rock cheio de clichês, explosões no palco, guitarra lança chamas e dançarinas/cantoras gostosas vestindo shorts e colants provocativos. Na boa gente, estamos em 2015, música tem que ser mais que isso. Valeu por “Anarchy in the UK”. Ah, mas essa música não é deles, né? Divertido. E só. Melhor para o cara que estava colado no palco e ganhou de presente o baixo do Nikki Sixx. Como ele levou para casa, sinceramente não sei.

MetallicaAtração principal da noite, o Metallica tocou pela terceira vez seguida no Rock in Rio carioca, depois de 2011 e 2013. Tentou não se tornar repetitivo, variando o repertório com músicas ainda inéditas no festival, incluindo a clássica “The unforgiven”, além de “King Nothing”, “The Frayed Ends of Sanity” e a versão de “Whiskey in the jar”. Das duas apresentações anteriores, tocaram de novo apenas sete de um total de 18. Achei estranho a ausência de “Lords of summer”, de 2014, a única nova que gravaram nos últimos sete anos. Outra novidade foi a montagem de uma espécie de arquibancada, atrás do baterista Lars Ulrich, que reuniu no fundo do palco um grupo de 50 ou 60 integrantes de fã clubes. Mas a veterana banda parece cansada da estrada, com exceção do líder James Hetfield, ainda com voz impressionante. O som deu pane com meia hora de show, a ponto do quarteto sair do palco por quase cinco minutos. Segundo nota oficial da organização, a parada ocorreu por “desconexão da linha de saída de som entre a mesa da banda e a do festival”. Lamentável.

DOMINGO (20/9)
Um dia definitivamente dedicado aos casais e ao público acima dos 35 anos. O Palco Mundo foi tomado por um time de medalhões que embalaram os corações e emocionaram a Cidade do Rock. Cheguei com o Palco Sunset já rolando, mas fiquei um bom tempo na sala de imprensa. (Ou)vi pela TV o show de Alice Caymmi, neta de Dorival, acompanhada por Eumir Deodato. Não prestei muita atenção mas, pelo que soube, a cantora fez um set eclético (arggh!), incluindo versões do funk “Princesa” (MC Marcinho) e o clássico “Black dog” (Led Zeppelin). Medo!

Baby e PepeuNa sequência veio o aguardado encontro de Baby do Brasil e Pepeu Gomes, após 27 anos. O show foi produzido por Pedro Baby, filho do casal, e teve de tudo um pouco: Pepeu chorou quando foi apresentado por Baby, houve um duelo de guitarra entre pai e filho e o repertório passeou por músicas dos Novos Baianos. Também não estava no palco na hora mas, pelos comentários, foi um dos momentos antológicos desse Rock in Rio.

Ainda aguardando as atrações principais, fui dar a primeira circulada pelo Sunset. Lá estava a banda canadense de reggae fusion Magic! (com exclamação mesmo). Não conheço nada deles e bateu aquela “sensação ET” de estar no meio de (muitas) pessoas cantando músicas que nunca tinha ouvido. Os caras fizeram homenagem ao Brasil – o vocalista tem o nome do país tatuado no braço – e ainda tocaram versões de Bob Marley (óbvio, né?) e The Police. Encerrando as apresentações no palco secundário, o norte-americano John Legend, ao piano, fez a preliminar do clima romântico, que dominaria mais tarde o espaço principal, cantando sucessos como “Save room”, “PDA” e “Glory” para deleite dos casais apaixonados.

ParalamasAbrindo o Palco Mundo, Os Paralamas do Sucesso fizeram mais uma apresentação da turnê comemorativa de 30 anos. Nenhuma novidade para quem assistiu esse mesmo show no Porão do Rock 2013 ou no início deste ano no Ginásio Nilson Nelson. Mas é sempre ótimo ver Herbert Vianna superando os limites da cadeira de rodas, cantando e tocando guitarra com habilidade. Como ele mesmo brinca em “Óculos”, “em cima dessas rodas também bate um coração”. Nada mais sintomático para dar início aos trabalhos que “Vital e sua moto”, música também presente no show da banda na primeira edição do festival, em 1985. Com imagens no telão exibindo capas de vários álbuns, tocaram 18 músicas, com direito a versões de Ultraje a Rigor (“Inútil”) e Tim Maia (“Você/Gostava tanto de você”) e o encerramento com “Que país é este?”, da Legião Urbana.

Na sequência, uma trinca de ingleses. Seal, 52 anos, “queimou cartuchos” logo no início cantando os hits “Crazy” e “Killer”. Depois, apresentou algumas músicas menos conhecidas, incluindo duas que vão sair no novo disco, Seven, previsto para novembro. No final, recuperou a audiência com a bela “Kiss from a rose”. Show correto.

Elton JohnDepois, o destaque absoluto da noite: Elton John, 68 anos. De terno azul brilhante e óculos escuros, sempre sentado ao piano e acompanhado por um super time de músicos, um dos maiores hitmakers do mundo desfilou suas grandes baladas. Teve “Tiny dancer”, “Goodbye yellow brick road”, “Rocket man”, “Don´t let the sun goes down on me” e “Your song”, entre outras. Ainda colocou a plateia para dançar em rocks como “I´m still standing” e “Saturday night”. E olha que ainda faltaram sucessos, após 1h40 de show. Simplesmente fantástico!

Rod StewartExcelente também foi Rod Stewart. Aos 70 anos, o cantor inglês de ascendência escocesa, espécie de Fábio Júnior de lá, não perdeu o ar fanfarrão e debochado e nem seu jeito galanteador e conquistador. Recheou sua banda de belas mulheres nos backing vocals, violinos, harpa e trompete. Mais que rostinhos bonitos, as moças têm muito talento musical e deram brilho à apresentação também coberta de sucessos. “Tonight’s the night”, a versão de “Have you ever seen the rain?” (Creedence Clearwater Revival) e mais “Forever young”, “Baby Jane”, “Da ya think I’m sexy?” e o bis com “Sailing” foram os pontos altos. Muitos casais se abraçaram, se beijaram e choraram com o show, mais curto que o anterior: 1h20.

O Rock in Rio 2015 faz uma pausa de três dias e retorna nesta quinta-feira, 24 de setembro. A gente continua no Rio de Janeiro cobrindo para o blog Cult 22 e com agendas para a Rádio Cultura FM (100,9MHz) e flashes ao vivo para a Transamérica FM (100,1MHz) – incluindo nosso programa na sexta-feira, entre 21h e 23h -, além de breves comentários pelo Facebook. Fiquem atentos!

Confira as agendas produzidas para a Rádio Cultura FM (100,9MHz) sobre o primeiro fim de semana do Rock in Rio 2015:

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