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Scalene: o rock de Brasília está de volta ao topo?

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Texto: Marcos Pinheiro
Fotos (shows Scalene e Supercombo): Lyanna Soares

Há mais de 30 anos eu acompanho a cena musical do Distrito Federal, em especial do rock, sendo 25 como jornalista/radialista/produtor. Já vi muita coisa bacana e fico feliz de verdade quando alguém daqui ganha destaque nacional, independente de gostos pessoais. Uma espécie de torcida “bairrista” mesmo. Acredito sempre no potencial dos artistas/bandas da cidade – e até por isso lamento o espaço excessivo que se dá aos covers em detrimento dos trabalhos autorais.

RaimundosO prazer de ver a turma daqui fazendo sucesso é ainda maior quando sinto que ajudei de certa forma. Nunca escondi o orgulho do Cult 22 ter sido o programa que tocou Raimundos pela primeira vez nas rádios de todo o Brasil. Vi o quarteto tocando aqui para públicos ainda reduzidos e em espaços alternativos – e depois para grandes plateias em ginásios e festivais. E assim foi com outras bandas locais da geração 1990/2000 – Little Quail, Maskavo Roots, Câmbio Negro, Rumbora, Móveis Coloniais de Acaju, etc.

Público ScaleneEstamos em 2015, o veículo rádio e o próprio Cult 22 não são mais tão “imprescindíveis” nesse trabalho de divulgação da cena independente. Mas voltei a ter essa sensação gostosa de ter “participado” do sucesso alheio na última sexta-feira (31/7) ao assistir o lotado show do Scalene na Ascade (Setor de Clubes Sul). Mais de mil pessoas – a grande maioria de adolescentes sub-21 – cantando todas as letras em coro, com direito a certa histeria feminina. A alta exposição na TV Globo por conta do concurso Superstar, claro, foi decisiva para esse frenesi. Mas com certeza não foi um fator único e isolado.

Scalene antigoHá anos o Scalene está na batalha. Lembro dos meninos, ainda como quinteto – com a vocalista Alexia (foto) -, tocando e/ou promovendo vários shows no extinto Cult 22 Rock Bar (Lago Norte), entre 2011 e 2012. Até foram mal-sucedidos no Festival Caça-Bandas, promovido pela GRV Produções, sendo eliminados na fase de classificação. Faltavam, na época, alguns “ajustes” musicais. Foi também no nosso bar que eles fizeram, em setembro de 2012, uma das primeiras apresentações com a atual formaçãoGustavo Bertoni (voz e guitarra), Tomas Bertoni (guitarra e backing vocal), Lucas Furtado (baixo) e Philipe Conde “Makako” (bateria). Em todos foram prestigiados por um bom número de amigos e fãs – claro que nada comparado ao que vimos atualmente.

O segundo álbum, Real/Surreal (2013), serviu como divisor de águas. No show de lançamento que rolou no Teatro Garagem do Sesc (913 Sul), dentro do projeto Rock Sem Fronteiras, entrevistei o Tomas e o Gustavo para a série Cult 22 Web. E comentei com eles sobre a mudança sensível no som e atitude da banda – e o quanto tinha gostado de Danse Macabre, para mim a melhor música deles até agora.

Scalene SuperstarEm 2014 os caras tocaram no Porão do Rock, entre outros vários shows pelo país. E este ano fizeram parte da quarta edição brasileira do Lollapalooza (abril) e do festival norte-americano South By Southwest (maio) na cidade de Austin, Texas. Ou seja: não chegaram ao Superstar a toa. Eu – quem diria? – passei três ou quatro fins de domingo colado na TV torcendo realmente por eles. Mais que uma vitória individual do Scalene, seria um triunfo para o rock de Brasília e uma possível reabertura nacional para a nova cena daqui. E não me incomodei com a segunda colocação, acho até que foi melhor – o primeiro lugar poderia “engessar” o trabalho deles em questões contratuais com a Globo.

SupercomboDiante de tudo isso, o reencontro com o Scalene na sexta passada não poderia ser melhor. Em parceria com a produtora local Influenza, com o apoio da festa Play!, o grupo veio lançar o terceiro disco, Éter, e trouxe no “pacote” o Supercombo (foto), banda capixaba radicada em São Paulo, que também concorreu no Superstar – e que esteve em Brasília antes tocando no Porão, em 2013. Fiquei surpreso com a ótima receptividade geral para eles – e me perguntando onde está todo aquele público em outros shows autorais em Brasília de artistas/bandas com apelo mais pop. O Scalene, por sua vez, mostrou muita maturidade e competência no palco e não abriu mão de um repertório só com músicas próprias – algo que já tinha feito com coragem e louvor durante o Superstar.

Dona CisleneQue seja, então, um recomeço para o rock brasiliense em nível nacional. Temos também o Dona Cislene (foto) concorrendo nesse momento por uma vaga no Palco Sunset do Rock in Rio com outros nove nomes do país. E o veterano Amanita, que participou em julho da final do WebFestValda, depois se classificar nos “20 mais” entre quase 800 inscritos em todo o país. Isso só para citar dois exemplos recentes.

Enfim, talento aqui não falta e isso está mais que comprovado. O rock autoral precisa de mais espaço e oportunidade dos produtores – e carinho e atenção do público local. Que o Scalene sirva como lição.

Confira álbum de fotos dos shows na Ascade por Lyanna Soares Photography

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4 comentários sobre “Scalene: o rock de Brasília está de volta ao topo?

  1. Marquinhos

    Já estamos há três meses trabalhando forte o trabalho autoral dentro do Projeto Capital do Rock. Como você disse, o “rock autoral precisa de mais espaço e oportunidade dos produtores” e estamos trabalhando para isso!!

    Assim, somos nós, produtores que também pedimos ajuda para sermos mais divulgados pela mídia local!!!

    Márcio Leal
    Homem da Marreta

  2. Márcio, que fique claro: não sou contra ninguém que seja de banda cover ou que produza shows cover. Faz parte do processo, sem problemas. O que lamento é que, por questões comerciais, o trabalho autoral tenha sido tão desvalorizado nos últimos anos em Brasília – e isso em grande parte é culpa de um público acomodado e pouco curioso em conhecer coisas novas. Acompanho o trabalho de vocês e sei que também investem no autoral. E concordo que a mídia muitas vezes ignora também esse trabalho independente, o que dificulta até o conhecimento dele pelo público em geral. Enfim, é uma discussão longa…

    Grande abraço e sucesso!

  3. Essa questão do trabalho autoral eu concordo. Isso você não percebe apenas nos shows pequenos que as bandas independentes procuram aparecer, mas também nos grandes shows quando aquelas mesmas bandas de sempre viram headliners em festivais. Isso um dia terá de acabar, é claro. Principalmente porque tem muita gente preconceituosa que só quer ir a u pub ver show de banda cover de Red Hot, Strokes, Arctic Monkeys, Black Sabbath, Metallica e por aí vai. Não sou contra as bandas covers, mas ela acaba tomando espaço das bandas independentes e sufocando ainda mais a divulgação delas. Mesmo não sendo de Brasília, mas já morando ai há um bom tempo, também me sinto orgulhoso de ver os caras bem na fita e divulgando mais e mais o cenário do Rock Brasileiro a nível nacional e dentro do DF. Aguardo, ansiosamente, pela confirmação do Festival Porão do Rock, suas seletivas e os dias de shows do festival. Valeu pela matéria e que o Rock, tanto Internacional quanto Nacional continue reinando forte e trazendo muitas bandas novas para sua renovação.

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