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Somos Tão Jovens x Faroeste Caboclo

Como todos sabem, dois filmes estão colocando Brasília e o universo de Renato Russo em evidência nas grandes telas de cinema neste mês. Um já está em cartaz desde o início de maio. Outro somente entra em circuito nacional no próximo dia 30 – mas teve pré-estreia concorridíssima, ontem à noite (14/5), no Espaço Itaú de Cinemas (Shopping CasaPark).

Para quem conseguiu ver os dois, como eu, as comparações se tornam inevitáveis. Somos tão jovens, dirigido pelo paulista Antônio Carlos Fontoura, 73 anos, é uma pequena biografia de um Renato Russo adolescente entrando na vida adulta e o início da carreira musical, do Aborto Elétrico à formação da Legião Urbana – e de boa parte da turma de amigos e músicos que estavam em volta. Ou seja, um período que compreende os anos de 1976 a 1982, o que explica a tão reclamada ausência da figura do baixista Renato Rocha, o Negrete, que só entrou na Legião em 1984.

O filme é um tanto quanto juvenil e romantizado, quase uma Sessão da Tarde. As atuações são de medianas a fracas, com exceção do Thiago Mendonça, encarnando em grande estilo o papel do protagonista (um puta desafio, cá pra nós!), e de Laila Zaid, fazendo a bonita e doce Aninha, a melhor amiga de Renato. Ao mesmo tempo é divertido e, para mim, muito emocionante. Afinal, quem é fã do cara e viveu parte daquele período, não tem como não ficar tocado em ver aquelas cenas das festas invadidas pelos punks; das paredes das quadras e comerciais sendo tomadas por cartazes e grafites de bandas da época; da galera se reunindo para tocar embaixo dos prédios ou no meio das quadras… fora as próprias músicas, claro! E o momento em que Renato Russo apresenta pela primeira vez Ainda é cedo é de chorar, vale pelo filme inteiro! Por isso, apesar dos pesares, ganha três estrelas, na minha humilde cotação.

Faroeste Caboclo, do brasiliense René Sampaio, 38 anos, é mais “sério”, bem feito, com bela fotografia e ótimas atuações, com destaques para Fabrício Boliveira (o João de Santo Cristo), Felipe Abib (o Jeremias) e o tarimbado Antônio Calloni (no papel do corrupto policial Marco Aurélio), além da boa trilha sonora de Philippe Seabra (Plebe Rude). Ísis Valverde faz uma Maria Lúcia meio sem sal – mas sinceramente não dava pra esperar muito. Um bangue-bangue em pleno cerrado, como sugere a homônima canção, escrita em 1979 por um Renato Russo pré-Legião. Curiosidade: não tivesse sido rodado há dois anos, o filme poderia ser acusado de plagiar Django Livre, de Quentin Tarantino, lançado em janeiro passado. Ainda mais tendo como personagem principal um cara negro, que virou matador em busca de vingança.

Quem conhece a música de cor e salteado pode torcer o nariz pelo fato da fita não segui-la ao pé da letra, omitindo algumas situações e até alterando a ordem de outras – ao mesmo tempo em que insere novos conteúdos e, obviamente, personagens. Afinal, não se trata de uma canção com nove minutos, mas de um filme com 100! Nada que comprometa o produto final, na minha opinião. O diretor preferiu fazer algo menos épico para evitar o que poderia ser um fiasco. Eu, particularmente, fiquei muito feliz em ter o Cult 22 Rock Bar como pano de fundo em duas cenas (foto), claro! Mesmo assim, o filme de verdade não me impactou. Como “cinema” é um produto melhor, não há dúvidas. Mas faltou “algo mais”. Três estrelas e meia, com louvor.

Quem gosta da obra de Renato e da Legião, deve ver os dois. Quem não gosta ou é indiferente, mas ama cinema, talvez seja melhor se limitar a Faroeste Caboclo – ou simplesmente se abster. O importante é que Brasília apareça nas telas de todo o país muito além da política, da corrupção e da burocracia. Aqui existe vida inteligente e cultura… Que venham mais filmes assim!

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