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Entrevista com Kim Deal, das Breeders

Entrevista publicada no site correiobraziliense.com.br
As respostas são meio nonsense.

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Daniela Paiva
Da equipe do Correio

Kim Deal vem ao Brasil pela terceira vez. Ela é atração do Planeta Terra Festival neste sábado, em São Paulo. A segunda edição do evento terá bandas como The Jesus and Mary Chain, Bloc Party, Kaiser Chiefs, Animal Collective, Foals, Spoon. Deal, que integrou o Pixies, uma das bandas mais importantes do rock nos últimos 20 anos, e formou o Breeders com a irmã gêmea Kelley Deal, conversou com o Correio antes da apresentação. Ela esteve em Curitiba com o Breeders em 2003, e retornou no ano seguinte, na turnê de volta do Pixies.

Kim e Kelley Deal. Ou Kelley e Kim Deal. Foto: AP

Kim e Kelley Deal. Ou Kelley e Kim Deal. Foto: AP

O que você achou do Brasil? Gostou?
As duas vezes que fui ao Brasil estive em Curitiba. Então, esta será a primeira vez que viajo para outro lugar aí. Eu realmente gostei. Na primeira vez, o Breeders tocou num lugar que tinha uma abóbada e foi bem legal. Na segunda vez, foi com o Pixies e fizemos um show ao ar livre.

As garotas se inspiram em você. Como se sentem em relação a isso?
Isso seria legal. Não sei se existe, mas seria legal. Sei que esbarramos nas garotas do CSS (Cansei de Ser Sexy). Elas são brasileiras, não? Esbarramos nelas algumas vezes e elas eram muito simpáticas. Pareceram entusiasmadas porque estávamos lá. Eram muito bonitinhas.

Cansei de Ser Sexy fez uma versão para Cannonball, hit do Breeders. Você já ouviu?
Sei disso, mas nunca escutei a versão.

Dandy Warhols fez uma homenagem a você. Como se sente em relação a isso? Você é muito assediada?
Isso é meio louco. É um pouco estranho. Quando ouve essas coisas pela primeira vez você pensa: “Eles estão brincando? Depois, você sabe que vão mudar de idéia um dia e dizer: ‘Argh, eu achava que ela era legal. Mas agora…’ Seria legal se fosse real, mas não acho que seja. Sabe o que escutamos muito sobre o Brasil em Ohio, nos Estados Unidos? Que as pessoas são lindas. Que todo mundo é lindo no Brasil, feliz, sexy. Todo mundo está na praia. É erótico. E você pode dançar, festejar. É muito estranho. É estranho ser de um país que… Todo mundo pensa dessa maneira do Brasil? A Inglaterra pensa dessa maneira sobre o Brasil? Também por causa de Cidade de Deus. O filme é brasileiro, não é? Ele foi legal. Sabemos que há pessoas pobres na beira-mar, mas elas vão à praia também e são lindas.

Quando você começou a montar o Breeders, pensou em uma banda de garotas?
Quando o Breeders começou, eu estava no Pixies. Procurei quem estava disponível para tocar comigo. Sempre senti que o Breeders seria algo que aconteceria entre outros trabalhos. Todos os integrantes eram de outras bandas. Mas eu nunca teria uma banda só de meninas, como também não exigiria que fosse só de homem. O importante era que o músico fosse bom e legal o suficiente para tocar comigo, basicamente. São as minhas pequenas e estúpidas canções, “aqui está uma idéia, o que vocês acham?”, e quem soar bem. Podia ser uma garota ou garoto.

Por quê?
Eu nem pensaria nisso. Seria como treinar uma banda de orangotangos. Vira uma fórmula no lugar de tocar com quem soa bem e quem quer fazer. O que também não teria problemas. Teríamos figurinos. Uma garota se vestiria toda de vermelho, outra de azul. Seríamos algo como as tartarugas-ninja. É divertido, mas bem diferente de quem é o melhor baterista ou soa bem no baixo.

Por que a demora para Mountain battles?
Demoro muito, não sei por quê. Talvez seja preguiçosa. Mas de 1987 a 1997 trabalhei direto, Come on pilgrim, Surfer rosa, Doolittle, Bossa nova (discos do Pixies) e Pod. No mesmo ano (1990) fiz Trompe Le Monde e Safari. Depois teve (o sucesso) Cannonball, The Amps (extinta banda que também tinha Kim) com Pacer. Depois disso, acabei com tudo. Tinha ficado ocupada o tempo todo. Mas, de repente, não conseguia mais encontrar uma banda. Comecei a trabalhar no próximo disco, quando o Pro-Tools surgiu. Muita gente como Beck, Moby, que estavam inseridos no rock, trabalhavam com teclados e loops. Mas o Pro-Tools mudou o conceito do que é uma banda. As pessoas não entram mais num estúdio para ensaiar. Elas vão direto no produtor. O cara senta ali e aperta a tecla de espaço. É estranho. Algumas vezes, as pessoas nem tocam. Elas usam uma canção como Lust for life, quebram em pedaços e usam os barulhos. Estúdios são como um péssimo vício em crack. Eles mudaram para o Pro-Tools, digital, pararam de usar as máquinas analógicas. Agora não achamos isso nada demais, mas naquela época era uma coisa muito chata ver aquilo tudo. Não sou assim porque sou velha. Sempre fui assim. Gosto de cassetes, odiei os CDs. Tinha 20 anos quando eles apareceram. Foi muito ruim quando tudo virou digital. Não é só uma questão de som. Ninguém toca mais. Não há banda. E é difícil encontrar pessoas (que queiram tocar em uma banda). Mas pode ser até mais fácil hoje. Quando o White Stripes estourou, em 2002, ficou mais fácil gravar em estúdio analógico. Os estúdios tinham essas máquinas de novo. Depois de cinco anos, as máquinas voltaram. Isso foi bom.

É difícil trabalhar com uma irmã gêmea?
Meu Deus, é difícil. Nós temos ensaiado bem. Ela aprendeu a tocar o violino para uma das músicas de Mountain battles. Temos uma violinista que toca muito bem no disco. Ela é fantástica, mas não pode viajar com a gente. Casou. Kelley aprendeu a tocar violino. Bom, ela não aprendeu a tocar o violino. Ela aprendeu a tocar a parte do violino. Ela aprendeu bem. Nós definitivamente nos estranhamos. Mas passa rapidamente. E a briga começa rapidamente também.

A intimidade não ajuda?
Sim, essa é a parte boa. Quando tento explicar uma parte, ela sabe exatamente do que estou falando. ‘Faça mais assim.’ Ela diz sim, sim, sim. Isso é muito bom.

É mais fácil trabalhar com ela do que com o Pixies?
Não acho que seja mais fácil. É difícil, é difícil (enfatiza). A maior parte (do trabalho) é carregar equipamento. Eu sei que parece estúpido, mas é verdade. Sabe o que é estranho? O cara que fez a parte técnica de alguns dos nossos discos mora em Los Angeles e grava um monte de banda nova. Ele esbarrou num jovem baterista e perguntou como estava indo o disco. O garoto disse: ‘Cara, soa muito bem. Está bem rock. Estamos usando a bateria do primeiro disco do Pretenders.’ Eles não queriam dizer que estavam roubando a bateria. A bateria está no estúdio e ele toca o instrumento. Mas tiram o estilo de bateria do disco do Pretenders e usam no disco inteiro. Claro que na música dançante todo mundo espera isso. Mas esse é um cara com tatuagens pelo corpo. Ele é um baterista. E o fato de ele não estar tocando bateria na porcaria do disco é estranho (fala com raiva). É difícil para nós? Sim, porque nós temos que botar a nossa bateria no carro e dirigir para algum lugar. Parece jurássico, não é? Nós temos que entupir o carro e dirigir para um lugar chamado estúdio. E temos que espalhar os cabos e microfones em todo o local. Colocar o microfone na bateria… E temos de usar esse som. Então leva um tempo para nós.

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Nota do blog: Leiam a matéria completa na edição impresa do Correio Braziliense.
Dani, muito obrigado! :-)

2 comentários sobre “Entrevista com Kim Deal, das Breeders

  1. Quem será que engordou mais,a Kim Deal ou o Black Francis? Empate técnico,eles devem ter ganho no mínimo 30kgs cada.

  2. não quero ser injusto com o jesus and mary chain, que fez um show memorável e, em vários aspectos, emocionante, mas a apresentação do breeders pôs todo mundo no bolso. foi uma das poucas vezes na vida que eu vi o público e o artista completamente entrosados, sem forçar a barra. o evento poderia ter acabado ali mesmo e não faltaria rigosamente nada…

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