Mr. Bob Dylan arrastou um ótimo público ontem (17/4) para o Ginásio Nilson Nelson, em Brasília, ainda mais em se tratando de uma noite de terça-feira. Não tenho os números oficiais, mas calculo, no “olhômetro”, que tenha sido entre 7 e 8 mil pessoas – depois atualizo quanto foi de verdade.
Provavelmente será a maior plateia em um só apresentação que o bardo terá nesta turnê brasileira, que começou domingo passado, para menos de três mil pessoas no Citibank Hall (Rio de Janeiro). Daqui, ele segue para Belo Horizonte (amanhã, no Chevrolet Hall, com capacidade para até 6 mil), São Paulo (sábado e domingo, no Credicard Hall, onde cabem 7 mil pessoas) e fecha na próxima terça-feira, em Porto Alegre (Pepsi on Stage, até 6 mil pessoas).
Confesso que quase não fui ao show. Com a suspensão do credenciamento à imprensa determinada pela produção do artista – o que já havia ocorrido no Rio -, fiquei na dúvida se compraria ou não o ingresso. Gastei horrores em São Paulo há duas semanas ao ver as duas apresentações do Roger Waters e os dois dias do Lollapalooza (junto com meu filho), fora outras despesas na viagem que arrombaram meu orçamento.
Embora já tenha assistido um show dele em 1990 (Hollywood Rock, no Rio de Janeiro), pensei muito e decidi “investir”, mesmo que numa opção mais barata: a arquibancada. Afinal, o mestre estaria pela primeira – provavelmente única vez – em Brasília e não poderia perder essa. Passei na bilheteria do ginásio no início da noite e desembolsei os R$ 120.
Fazendo jus à trajetória de 50 anos de carreira, Bob Dylan dividiu opiniões. Claro que ele é um dos maiores letristas e dos mais importantes e influentes artistas da história da música, isso eu não discuto. Mas, ao vivo, ele é no mínimo controverso. Por sua personalidade contestadora, que se reflete nas canções e na postura sempre avessa à imprensa, o cara não se rende às armadilhas pop do showbizz. Não fala absolutamente nada com o público, nem um “good night” – embora tenha feito alguns gestos engraçadinhos e até simpáticos -, e nem mesmo apresenta sua afiada banda, formada por cinco integrantes. Deixa de lado vários de seus sucessos – nada de Blowin´ in the wind, Mr. Tambourine Man, The times they are a-changin’, Lay lady lay, Just like a woman, Knockin´ on Heaven´s door, Jokerman, Hurricane… – e opta por um repertório mais “alternativo” (confira o set list completo mais abaixo).
Sua voz fanha e cada vez mais rouca embola os versos, que muitas vezes se tornam incompreensíveis. Ele não canta, declama as letras. Mais do que isso, muda o andamento das músicas, perverte suas composições. Soma-se a isso tudo a acústica sempre problemática do ginásio brasiliense – e o fato de eu estar vendo o show à distância, lá de cima da arquibancada…
Os fãs de carteirinha já sabem disso e parecem não se importar, pelo contrário. Mas é aí que chegamos ao ponto da discussão: esse comportamento pode ser genial, mas também pode soar chato aos ouvidos daqueles que gostariam de ouvir as músicas no mínimo parecidas com a original, com aquilo que se acostumaram a ouvir nos discos. E aí haja argumentos para debater, incluindo o fato do ginásio não ser o palco adequado para um show como o de Dylan, a falta de casa de espetáculos em Brasília, etc.
Da minha parte, não saí frustrado, nem eufórico do show. Já sabia que seria assim, minha expectativa era baixa e a intenção era só mesmo estar perto da “lenda” novamente. Neste aspecto, fiquei satisfeito, mas não “maravilhado”. Nota 7,5.
O set list foi alterado em relação à apresentação no Rio (confira no post anterior), com uma música a mais (foram 17 no total, em 1h45 de apresentação) e as inclusões de Don’t Think Twice, It’s All Right, Spirit on the Water, Honest With Me, A Hard Rain’s A-Gonna Fall, Blind Willie McTell e, no bis, Rainy Day Women #12 & 35.
Veja o que Bob Dylan apresentou em Brasília:
Leopard-Skin Pill-Box Hat
Don’t Think Twice, It’s All Right
Things Have Changed
Tangled Up In Blue
Beyond Here Lies Nothin’
Simple Twist Of Fate
Summer Days
Spirit On The Water
Honest With Me
A Hard Rain’s A-Gonna Fall
Highway 61 Revisited
Blind Willie McTell
Thunder On The Mountain
Ballad Of A Thin Man
Like A Rolling Stone
All Along The Watchtower
Bis
Rainy Day Women #12 & 35
Olá Marquinhos,
Poxa, nem fui ao Bob Dylan, a dupla Rock In Rio/Roger Waters me levaram à falência…Quando tiver um tempinho, depois você posta a resenha sobre o Roger Waters (que achei fantástico!) e o Lollapalooza, que assisti o Foo Fighters pelo Multishow e de diverti bastante.
Beleza, Marquinhos, seu comentário foi perfeito. Pra fã de carteirinha do Bob, acho que foi um bom show (sem chegar a ser fantástico). Mas pra maioria da galera foi realmente chato. Afinal, a gente tem uma chance na vida pra ver um cara desse porte, e sair sem ouvir Blowin’ in the Wind é no mínimo frustrante… Abração!
Concordo com tudo que foi dito aqui!! Como a acústica do ginásio é nada legal e pelo fato de ele ter mudado os arranjos das músicas, acabei que nem percebi que ele havia cantado “Don’t Think Twice, It’s All Right” e “Highway 61″, vi agora, e acabei ficando muito chateada. O Dylan é maravilhoso, a banda é maravilhosa, foi uma pena não ter tido os grandes clássicos, mas valeu a pena!
Muito bem escrita a matéria, valeu ;)
P.S: Acho que o mais frustrante foram os telões desligados, percebia-se que ele estava brincando com a galera, mas da arquibancada não se via muito!
Cara, é por isso que nao vou aqui em SP. A grana nao tá sobrando para o MR. Dylan me fazer o favor de tocar para mim. Curto o seu brilhantismo em CD, Vinil que tenho. Do jeito que o cara valoriza o público, devia só baixar MP3 “gratuita” dele, quem sabe se todos fizessem isso, pelo menos com seu público, ele nao seria mais gentil?Belo post, valeu!
So uma correcao… Informacao oficial eh de que foram tipo quatro mil pessoas. Teve muita cortesia, mas realmente nao achei tao bom assim opublico, ainda mais se considerarmos que aqui em brasilia o preco nao foi dos mais caros comparando com outros shows de artsitas tops.
Acho bacana os fas que curtiram e talz, mas numa boa: nada justifica. Nem idade, nem personalidade, nem jeito, nada justifica uma falta de interacao como a dele. Achei antipatico demais, show arrastado e a sversoes dos poucos hits que tocou achei horriveis.
Boring Dylan!