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Ainda dá pra falar sobre o Rock in Rio?

Viagem corrida ao Rio de Janeiro, volta a Brasília com homenagens, (muitas) mensagens elogiosas e carinhosas, atualizações de agenda, retorno à rotina do bar e outras atividades, mudanças no Festival Mundano… Nem deu tempo para escrever nada sobre o Rock in Rio. Mas como já ficou claro que este blog não é necessariamente “jornalístico”  – e eu tenho direito a expressar minhas opiniões -, vamos a alguns episódios das duas noites em que estive na Cidade do Rock.

WONDER IN RIO


Como escrevi antes, decidi ir ao festival meio em cima da hora, tipo duas semanas antes de viajar. Fui seduzido pelo marketing e o apelo afetivo de ter acompanhado as outras três edições do evento no Rio. Já que não poderia conferir o primeiro fim de semana por motivos familiares (queria muito ter visto o Metallica!), assistiria somente a última noite (2/10), a “do Guns n´Roses” – que na verdade teve um outro grande personagem principal.  Já estava com ingresso na mão (para domingo) e a passagem comprada para quinta-feira (29/9).

“Pilhado” por amigos, resolvi também ir à “noite black“. Afinal, já estaria mesmo na Cidade Maravilhosa, a questão era “só” ter o ingresso. E vos digo que nem foi difícil. Pelo Facebook, consegui com uma amiga de São Paulo e paguei o preço normal (R$ 190). O problema foi a “logística” para pegá-lo. Com os Correios em greve, o jeito era encontrar uma outra amiga que estava indo. Meu voo chegava por volta das 17h – atrasou, saí do aeroporto às 17h40 – e minha intenção era seguir direto. Só que, temerosa de roubos, a menina simplesmente não quis levar o celular e preferiu deixar o bilhete na portaria do prédio onde estava… em Botafogo! Calculem o drama: quinta-feira, fim de tarde, trânsito caótico no Rio de Janeiro, trajeto Galeão- Botafogo-Barra-Cidade do Rock. E mais uma boa caminhada pra chegar à arena. Quatro horas depois – quase 22h – entrei finalmente no Rock in Rio.

Já tinha perdido o tributo à Legião Urbana, a Janele Monae e a Joss Stone – absurdamente escalada para o Palco Sunset, no final da tarde. No Palco Mundo quem se apresentava era a Ke$ha, atração completamente deslocada naquele line up - para não dizer do festival inteiro. Deixei quieto e fui encontrar os amigos na chamada Rock Street. Que lugar bacana! Várias lojas que reproduziam casas e sobrados de Nova Orleans, um coreto no centro com uma banda tocando – na hora quem estava lá era o carioca Arnaldo Brandão, ex-Hanoi Hanoi, com várias participações especiais, inclusive a de Daryl Jones, baixista que toca com os Rolling Stones… Ficamos um bom tempo lá conversando e aproveitei para comer, claro!

23h15, hora de encarar o palco principal. Fui ver o Jamiroquai. Não sou fã, nem torço o nariz. Gostava mais daqueles primeiros discos quando o som parecia mais com o… Stevie Wonder! Mas me diverti com o show de Jay Kay (e seu cocar índigena) com uma hora e pouco de duração. Dançante e de volta aos tempos da discoteca (sim, minha pré-adolescência). Som bem equalizado, um bom aperitivo para o que viria depois. Jamir..ok!

Com o longo intervalo, mais um rolê por outras áreas. Vou pagar pau: a estrutura era fantástica e, como a noite não estava tão lotada, dava pra circular tranquilo. Confesso que estava tão feliz de estar lá, que nem me irritei (muito) quando fui obrigado a esperar mais de 15 minutos por um sanduíche no Bob´s. Deu tempo de lanchar e voltar pra encarar o “mestre”. No caminho, vi Alex Escobar, o irmão perdido de Abelardo Mendes Jr. Hehehe!!!

Sim, Stevie Wonder é um monstro. 1h30 da madrugada, luzes laterais da arena desligadas e minutos depois lá estava o cara, aos 61 anos, desfilando simpatia, uma (ainda) ótima voz e um repertório com vários hits que embalaram gerações. Soul, funk, jazz, blues, pop, rock, ritmos caribenhos e… bossa nova! O “Maravilha” protagonizou um dos momentos mais bonitos do festival quando, ao lado da filha Aisha (foto), começou a cantar ao piano Girl from Ipanema. Logo, a galera entoou os versos da canção original e ele teve que se render ao apelo do povo. E assim foi: toda a arena mandando “Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça…”. Ok, é clichê. Mas foi de arrepiar. Um amigo brincou que era a “Love of my life de 2011″. Menos, claro. Afinal, aqueles tempos (1985) eram bem outros, o sucesso do Queen é em inglês e tinham mais de 300 mil pessoas no festival na época. Mas foi comovente mesmo assim. Como também foi ouvir Higher ground, Living for the city, Overjoyed, My cherie amour, You are the sunshine of my life, I just called to say I love you, Superstition, Isn´t she lovely… Com direito a uma participação especial da Janele Monae na reta final. Só faltou Ribbon in the sky, na minha humilde opinião. Duas horas de puro deleite, pra lavar a alma e voltar pra casa de boa. E ainda esbarrar com o Ed Motta indo embora escoltado por seguranças.


GUNS N´RAIN E… O GRANDE NOME DA ÚLTIMA NOITE


Após duas noites circulando pelo Rio, encontrando amigos e familiares – afinal, ninguém merece Shakira, Ivete Sangalo, Jota Quest, Maná e Maroon 5, só pra citar alguns -, voltei ao Rock in Rio no domingo. Desta vez num esquema mais bem armado, com transporte contratado para me levar e trazer. Entrei na arena por volta das 17h, após pagar R$ 5 por uma capa de chuva e pegar uma fila gigante, mas razoavelmente organizada na portaria. Ainda vi um pedaço do show dos Mutantes – ou o que restou deles, leia-se Sérgio Dias Baptista (foto abaixo) - no Palco Sunset, que não tive oportunidade de conhecer na quinta-feira. Perdi o Tom Zé, que cantara antes.

A estrutura do palco era bem menor em relação ao principal, mas também legal. Com outra praça de alimentação, lojinhas, etc. Encontrei com amigos e fui circular. Afinal, a atração seguinte no Sunset, após mudança de última hora, seria o Marcelo Camelo (muito sono). E o primeiro nome do Palco Mundo, às 19h, era o Detonautas. Melhor dar passear, né? Ou acompanhar pelo celular os resultados dos jogos do Brasileirão, com a galera do Flamengo comemorando a vitória sobre o São Paulo, no Morumbi (triste), e a do Vasco lamentando o empate, em casa, com o Corinthians. Mais tarde, o Botafogo perderia para o Atlético-GO, embolando todo o campeonato – meu Fluminense já tinha feito sua parte ganhando do Santos na véspera.

Voltando à música… Após mais uma passada na Rock Street – sim, o grande “point” do festival pra mim -, fomos ver a Pitty no Palco Mundo. Minha opinião sobre a baianinha é controversa. Não gosto muito, mas perto de outras “novidades” do rock mainstream nacional – NxZero, Fresno, Strike, Restart, Cine -, ela chega a ser “maravilhosa”. E olha que o show foi bom, animado e com vários sucessos.

No intervalo, os Titãs começaram a tocar no segundo palco acompanhados pelos portugueses do Xutos & Pontapés, alternando músicas das duas bandas. Como o telão no palco principal estava transmitindo, achamos melhor ficar por lá mesmo e vimos uns 20 minutos da apresentação. Avançamos um pouco no meio da multidão até que, por volta das 21h30, começou o Evanescence. Cheguei a brincar: “Ué, a Pitty voltou?”, pois achei o visual da Amy Lee parecido com o da baiana. Não vou discutir que a moça americana tem bela voz e que a banda é até competente. Mas achei o show muuuito chato. A logomarca da banda como pano de fundo e aquelas canções, muitas delas ao piano, pareciam trilha sonora da saga Crepúsculo. Sentia que a qualquer momento a Kristen Stewart (ou Bella Swan) ia aparecer no telão chorando de saudades do vampiro… ou do lobisomem, sei lá.

Uma hora e pouco de “chororô” depois, um novo intervalo e um clima de grande expectativa pairava no ar. Muitas camisetas na arena já prenunciavam que a dona daquela noite não era a banda de Axl Rose. A partir das 23h20, tal suspeita se comprovou. Aos primeiros acordes de Prison song, várias rodas de pogo se abriram no meio da galera e um sonho estava sendo realizado para milhares de fãs ali presentes: o System of a Down estreava no Rio de Janeiro em sua primeira vinda ao Brasil. Se na véspera, em São Paulo, os caras já tinham mandado 29 músicas, no festival eles praticamente repetiram o set list. Foi uma catarse, com a galera cantando tooodas as músicas em coro: BYOB, Needles, Hypnotize, Psycho, Chop Suey, Lost in Hollywood, Science, Innervision, Suite Pee, Toxicity, Sugar… Confesso que fiquei meio perdido, pois não conhecia nem metade do que estava rolando. Mas fiquei encantado com a performance do armênio Serj Tankian, em seu característico jogo de vozes que vai do grave ao agudo em segundos, e do guitarrista Daron Malakian (foto). E isso porque o som estava mais baixo e rolava uma chuva fina! 1h45 de show, absolutamente fantástico.

1h10 da madrugada, fim do SOAD e meus amigos foram embora, pois voltariam para Brasília de manhã cedo. Já prevendo que o intervalo seria longo, levei alguns bons minutos pra sair da muvuca e ir lanchar. Eis que, com o sanduíche e o refri na mão, começa a chover forte. Sem ter onde me amparar, coloquei tudo no chão para pegar a capa plástica (lembram?) guardada no bolso da calça. Vesti rapidinho e fui obrigado a engolir tudo para não molhar mais. (Mal) alimentado e com a água caindo, fui voltando devagar em direção ao palco, dessa vez pela lateral.

Muitos já sabiam que Mr. Axl Rose tinha armado mais uma. Enquanto toda a banda estava no Brasil, o cara simplesmente “perdeu o avião” que o traria dos Estados Unidos. A organização do festival teve que fretar um jatinho para que a figura chegasse a tempo. Uma hora depois do System, nada de show ainda. E as vaias (e xingamentos) começaram a tomar conta da arena. A desculpa da vez era “enxugar o palco molhado”. A impaciência foi aumentando, muuuita gente foi embora (calculo que uns 30% dos que estavam antes) e eis que, às 2h45 da madrugada (de uma segunda-feira), o Guns n´Roses entrou. Claro que logo a irritação foi substituída pelos gritos dos fãs. E lá estava ele, de chapéu preto e casaco amarelo de chuva, cantando Chinese democracy, dando início às 2h15 de apresentação, que terminou às 5h (!).

Vocês que acompanham este blog sabem que não nutro muita simpatia pelo camarada, justamente por esses seguidos desrespeitos ao público em sua eterna síndrome de “rock star” decadente. Mas até que Axl estava mais simpático dessa vez. E sua voz segurou mais que no show aqui em Brasília (março de 2010), por exemplo. O fato que é o Guns já deixou de ser o Guns há muuito tempo. É uma pálida imagem daquela banda que conquistou o mundo até meados dos anos 1990. Claro que as músicas falam mais alto e ainda soltam faíscas… mas longe de empolgar. O repertório extenso, no meio da madrugada chuvosa e do cansaço pela maratona do festival, não contribuía em nada para melhorar o clima. Ponto positivo para a execução de Estranged, que eles não tocavam há 18 anos.

O Rock in Rio, pelo pouco que pude conferir, foi ótimo em termos de estrutura e logística. E ruim artisticamente, como todos já sabíamos e criticávamos. Mas valeu, para mim, por recordar o Stevie Wonder e por “descobrir” o System of a Down, dois artistas que nunca tinha visto ao vivo. O festival “passou” com nota 7.

2 comentários sobre “Ainda dá pra falar sobre o Rock in Rio?

  1. Gostei da sua resenha espirituosa!
    Assisti pela tv algumas coisas porque a Globo ridícula não permitiu transmissão via YOUTUBE! Pode uma coisa dessas, man – um mega festival desta importância asssistido especialmente pra quem tem tv a cabo? Ah, nem…
    Os “jornalistas” bonitos foram um caso à parte: é rir p/ não chorar, sinceramente. A ridícula da Didi falando com Shakira após o show em inglês! Pohrãn; até Hebe Camargo sabe que a colombiana fala fluentemente português! Não, Marco, é muita coisa, véio. E quando o Bonner falou pra jornalista que comprou o ingresso há meses; ao invés da parva falar pro William; “Cê jura, fio? Você – diretor do J.N.? Aham, senta lá”!

  2. Bão, minhas impressões foram que o show do System foi ótimo, Snow Patrol funciona bem em festivais da Europa, pero no Brasil…
    Evanescence e Lenny Kravitz não foi legal porque onde já se viu lançar álbum num festival daquela magnetude? Esses eventos são bons pra cantar hits, pô! A vaca da Rihanna demorou 2 hs. pra subir ao palco. Motivo: tava enchendo a cara e desafinou que foi uma beleza. Kate Perry é outra gralha dos infernos; pior que amo os discos delas , mas certamente não pagaria bilhete caro pra ver show de desafinação! Please, baby!! Claudia Leite? Sem comentários! MORTA!!!!!

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