Blog voltar
|

Legião eterna

Legião Urbana ao vivo

Fotos: Patrick Grosner (Porão do Rock)

É complicado pra mim fazer uma “cobertura completa” do Porão do Rock. A correria no trampo do festival me impede de acompanhar todos os shows. A grande maioria eu só vejo em pedaços  e em muitos não consigo assistir nada. Este ano até que vi mais do que o normal, mas nada que me permitisse fazer uma avaliação real da 12ª edição do evento, que reuniu quase 80 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios (Brasília) no último fim de semana.

Por isso prefiro falar de uma apresentação especial, que fiz questão de assistir na íntegra – e de cima do palco: a tal “atração surpresa”, que todos já davam conta de que seria a Legião Urbana – ou melhor, a reunião dos remanescentes Dado Villa-Lobos (guitarra) e Marcelo Bonfá (bateria). Os boatos rolavam, mas não “como seria”. E o segredo também permanecia dentro dos bastidores do Porão. Ninguém sabia ao certo o que aconteceria realmente naquela noite de domingo, 20 de setembro.

Eram 14h e estava na sala de comunicação do festival quando ouvi riffs de guitarra que remetiam a coisas da Legião, nada muito definido. Penny Lane (Rock Brasília), ao meu lado, percebeu o mesmo e fomos ao Palco Principal conferir. Lá estavam Bonfá, com fisionomia envelhecida, e Dado, com a mesma cara de garoto, passando som junto a técnicos e músicos convidados. Não vou mentir: ficamos tão emocionados que preferimos descer para não “pagar mico”. Durante 45 minutos de checagem ouvimos os caras tocando Tempo perdido,  Quase sem querer, Será e Que país é este? O suficiente para provocar arrepios e aumentar a expectativa pelo que viria à noite.

Durante a semana vários veículos de comunicação, inclusive da mídia nacional, me cercaram querendo saber quem seriam os vocalistas daquela reunião. De início sabia apenas que teriam os tais músicos uruguaios – alguns deles integrantes da banda La Vela Puerca – e um deles cantaria. No sábado à noite rolou a confirmação da presença do Tony Platão (ex-Hojerizah), já divulgada por alguns sites. E imaginávamos sobre as participações de Herbert Viana (Paralamas do Sucesso) e Philippe Seabra (Plebe Rude).

A orientação era que não se anunciasse nada sobre o show. No intervalo, após a apresentação dos Paralamas do Sucesso, o clima de ansiedade pairava sobre todos os presentes – algo em torno de 35 mil pessoas naquele momento, segundo cálculos da Polícia Militar. Tenisson Ottoni, o apresentador, ainda provocou: “Vocês sabem quem é a atração surpresa?”. A galera, em coro, respondeu o que aquela altura já era óbvio.

Estava novamente na sala de imprensa quando ouvi os primeiros sons no palco e corri para uma das telas de plasma montadas no backstage para acompanhar um vídeo que (eu já sabia) seria apresentado como introdução. As imagens mostravam diversos noticiários de TV e manchetes de jornal divulgando a morte de Renato Russo, em 11 de outubro de 1996. Na sequência, o encontro, quase 13 anos depois, de Dado e Bonfá, os ensaios para o show no Porão, o desembarque deles em Brasília e… corta para a entrada da banda! Eram 21h50 e, de cara, a primeira surpresa: quem teve a primeira missão de “substituir o insubstituível” foi André Gonzales, do Móveis Coloniais de Acaju, cantando Tempo perdido. Voei para o palco.

Legião Urbana ao vivo 3Ao final de sua participação, André saiu visivelmente emocionado. “Cara, fiquei nervoso, é muita responsa”, confessou, abraçado pela equipe e produtores. O uruguaio Sebastian Teysera, do La Vela Puerca, assumiu o microfone em Quase sem querer tentando disfarçar o sotaque “portunhol”. Depois foi a vez de Tony Platão, amigo de longa data de Dado, entoar Eu sei e também se emocionar. Em Pais e filhos, Bonfá fez a voz principal e proporcionou o momento mais catártico do curto show. Diversos veículos que circulavam pela Esplanada dos Ministérios paravam nos acostamentos para os passageiros acompanharem os caras, mesmo de longe.  Num grande encontro entre amigos, Herbert Vianna e Bi Ribeiro (foto) mandaram Ainda é cedo. Com a música já iniciada, João Barone apareceu tocando um pandeiro na plataforma ao lado de Bonfá.

Legião Urbana ao vivo 4Com as lágrimas correndo dos olhos de muita gente – inclusive de adolescentes que sequer viram a Legião ao vivo alguma vez -, a banda saiu e logo vieram os pedidos de bis. Atrás do palco, Dado tentava convencer um bêbado Loro Jones a tocar Geração Coca-Cola. “Não sei mais tocar esta p*, só se for Veraneio vascaína”, respondeu. Na volta, então, Philippe Seabra (foto) – que já havia protagonizado sensacional apresentação da Plebe Rude horas antes – cantou a música que o ex-guitarrista do Capital Inicial rejeitou. Como gran finale, a indefectível Que país é este, em clima de desajeitada jam session, juntou todos os vocalistas com as participações do baixista PJ, do Jota Quest ( “Outro filho da terra”, segundo anunciou Dado), e do reticente Loro Jones.

Tecnicamente, a apresentação não foi um primor… e seria mesmo difícil que fosse. Mas, no aspecto emocional e do seu significado, já entrou para a história. Foi um pacto de paz firmado pela Legião Urbana (ou o que restou dela) com a cidade que praticamente a expulsou após o polêmico show do estádio Mané Garrincha, em junho de 1988. Mais de 21 anos depois, o amor entre o público brasiliense e a banda voltou a ser selado. Uma noite inesquecível!

Legião Urbana ao vivo 2
PS: Aos que temiam pelo Porão do Rock na Esplanada, o público mostrou mais uma vez que rock é celebração, diversão, mesmo que com alguns excessos. Mas não é espaço para violência. Nenhuma ocorrência grave foi registrada. Ninguém foi morto, esfaqueado ou assaltado. Aconteceram alguns furtos, mas que poderiam rolar em qualquer evento de grande porte, gratuito ou com ingresso pago. O clima foi de paz, mesmo que alguns tenham exagerado no álcool e outros “aditivos”. E praticamente não choveu: só durante o último show, do Móveis Coloniais, pouco antes das 4h de hoje (21/9). Enfim: quem não foi por medo, perdeu um festival com shows históricos.

54 comentários sobre “Legião eterna

  1. Para Rogerio Brasília:

    Na época do Rotomusic de Liquidificapum a Fernanda Takai já participa da banda sim. Agora, quanto a questão dos vocalistas é assim:

    O John, você deve saber, era guitarrista da banda Sexplicito, quando ele se juntou ao Koctus e a Takai para formar o Pato Fu ele “meio que arriscou” nos vocais, mas o foco dele sempre foram as composições (letra & música) e a parte técnica (produção), a medida em que a Fernanda foi aprimorando as técnicas vocais o John passou a compor mais em funções dela, mas de fato nunca existiu muito polêmica entre um ou outro ser o vocalista principal. A Fernanda se tornou naturalmente.

    Até o “Gol de Quem” além do trio eles utilizam um aparato eletrônico (bateria eletrônica, efeitos, sample, programações) batizados por eles de 128 Japs (nome também do estúdio do John).

    Tivemos o prazer de assistir aqui em Brasília shows dele com essa formação ainda sem o Xande baterista. Inclusive, teve um show clássico, se não me falha a memória o primeiro da banda em Brasília, onde ainda se apresentaram a Oz e Os Cabeloduro (!).

  2. O Porão no domingo foi muito bom, Paralamas e os caras da Legião, que foi o ponto alto do festival. O show da Plebe foi até empolgante, só não gostei da forma que o Philipe Seabra falou do Cachorro Grande, que é uma banda que está com os dias contados pra acabar…Acho que esse comentário foi tão infeliz quanto o mal humor do Beto Bruno com os caras do som.

    Um Abraço

  3. Maskavo Roots que abriu para o Pato Fu!

    E quanto ao problema do Beto Bruno, não foi pelo mal humor e sim pelo ato “escroto” de terem jogado uma guitarra do pessoal da técnica. Não precisava disso!

    E que a banda está com os dias contados é fato.

  4. Olá Luciano

    Não sei se irá ler ainda eses comentarios, mas agradeço a cada informação qeu tem me dado.
    Eu só vim a acompanhar pra valer pao fu apartir do gol de quem e eu adoro a fase que considero ingenua dos anos 90 do pato fu.
    Ouvir a voz da fernandinha e a empolgação no palco da banda naquela epoca era demais.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *

Você pode usar estas tags e atributos de HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <strike> <strong>