O Porão do Rock 2018 sob o olhar do Cult 22

Edição: Marcos Pinheiro
Texto: Ana Júlia Tolentino, Bruna Senseve e Marcos Pinheiro
Fotos: Lyanna Soares e Octávio Schwenck Amorelli
Vídeo final: Octávio Schwenck Amorelli (produção e edição)
Assistência de produção e redes sociais: Erika Meier

Antes tarde do que nunca, vamos passar a limpo como foi, na visão da equipe do Cult 22, a versão 2018 do Porão do Rock, realizada nos dias 29 e 30 de setembro (sábado e domingo) no já tradicional estacionamento do Estádio Mané Garrincha, centro de Brasília. Uma edição que comemorou os 20 anos do considerado “maior festival de música independente do país”, mas que decepcionou novamente pela pouca presença de público: no máximo 15 mil pessoas circularam pela arena nos dois dias para conferir as 46 atrações divididas em três palcos, numa maratona com 21 horas de música.

O line up foi interessante ao unir nomes veteranos da cena nacional com algumas boas revelações, tais como a cantora carioca Letrux (foto) e a banda paulista Francisco El Hombre. Mas o Porão do Rock preferiu não sair da “zona de conforto” em termos de estrutura, seguindo um padrão que muitas vezes incomoda. A grandiosidade da área entre a entrada principal e os palcos e o tamanho desnecessário do camarote deram uma sensação desértica ao festival diante do pouco público, já frequente nas últimas edições. As “desculpas da vez” foram as manifestações políticas ocorridas nos dois dias, contra (e a favor) de um dos candidatos à Presidência da República. E a realização do Green Move Festival simultaneamente ao Porão (e de graça!), na Esplanada dos Ministérios. Enfim…

O tom político, por sinal, ecoou pelos palcos do Porão. O discurso mais consistente do #elenão veio da banda paulista de hardcore La Raza (foto), atração de sábado no Palco 3, o pesado. Mas também esteve presente nos shows de Nação Zumbi & BNegão, Plebe Rude, Lupa, Matanza, Francisco El Hombre, Gangrena Gasosa e tantos outros.

Comprar comida ou bebida por lá mais uma vez “doeu” bastante no bolso. Os intervalos entre os shows foram bem silenciosos na maior parte do tempo. Quebrados às vezes pelo jingle (chatíssimo!) da propaganda da Transamérica FM. Ou pelo trailer do filme “Bohemian Rhapsody”, cinebiografia de Freddie Mercury (Queen), que estreia nos cinemas em 24 de outubro. A se elogiar a extrema pontualidade dos shows – muitos começaram até adiantado! Nos palcos, porém, problemas técnicos comprometeram em certos momentos, com vocais baixos, guitarras no alto, pratos de bateria não microfonados, tambores desligados… Nem bandas grandes, como CPM 22 e Braza (foto), escaparam desses vacilos.

Em termos de acessibilidade, o Porão do Rock mais uma vez esteve de parabéns. Os banheiros químicos tinham até cabines para cadeirantes, além dos cardápios em braile e da tradução simultânea dos shows para libras. Muito bacana!

OS SHOWS
Musicalmente falando, o festival agregou lados que não eram destinados exatamente à vertente do rock – Braza, Letrux, Cordel do Fogo Encantado, Francisco El Hombre, Orquestra Brasileira de Música Jamaicana, Froid… – e abraçou os que de fato trouxeram o estilo em sua forma mais visceral. No sábado, o CPM 22 (foto) deu um toque nostálgico, com direito à presença de Rodrigo Rollemberg, governador do Distrito Federal, na roda de pogo.

Braza fez ótimo show, que só não foi tão bom quanto o de 2017 por conta dos vacilos na mesa de som. A Nação Zumbi, acompanhada pelo rapper BNegão (foto), fez apresentação arrebatadora mesclando músicas dos dois artistas com outras dos tempos de Chico Science e um discurso de alto teor político. “A Verdadeira Dança do Patinho”, original de 2003, foi “dedicada” ao candidato #elenão. Outros destaques do primeiro dia foram a local O Tarot, a paulista Deb & The Mentals – liderada pela elétrica vocalista brasiliense Deborah Babilônia – e o retorno dos veteranos do rap rock Pavilhão 9, também de São Paulo.

No domingo, o Matanza (foto), em sua última turnê, encerrou a programação do festival se despedindo dos fãs brasilienses com uma pancada atrás da outra sob o comando do eterno “lenhador” Jimmy London. A geração 1980 foi contemplada pelos shows da Plebe Rude – que começou morna, mas cresceu na reta final – e pelo Barão Vermelho, apresentando pela primeira vez na cidade o novo vocalista, Rodrigo Suricato, cujo timbre de voz se assemelha ao de Frejat. Cordel do Fogo Encantado, Letrux e Francisco El Hombre fizeram apresentações bonitas e sensíveis. E a brasiliense Lupa mostrou mais uma vez estar preparada para alçar grandes voos no mercado nacional.

PALCO PESADO
O Palco 3 do Porão do Rock, destinado às atrações de heavy metal, hardcore e punk, esteve bem convidativo e enérgico, com uma área vip menor e som incrivelmente melhor. Mas o público decepcionou demais! Os headliners de cada noite – Krisiun (foto) no sábado e Korzus no domingo – foram assistidos por 200 ou 300 pessoas em média. Muito triste!

No sábado, destaques para as paulistas La Raza, e seu hardcore politizado, e Project46, rock nervoso sob o comando do vocal gutural de Caio MacBeserra. E para a sempre divertida Gangrena Gasosa (foto), do Rio de Janeiro, e todo o mise en scene incorporando entidades dos terreiros de macumba. No domingo, a mineira Pense puxou a galera para o palco e fez um dos melhores shows do Porão 2018.

Brasília também esteve muito bem representada por DFC, Deceivers, Device e Agressivo Pau Pôdi. Destaques também para o profissionalismo do Seconds of Noise – com o vocalista Fábio “Frajola” cantando em cadeira de rodas -, a revelação Never Look Back – banda nova, mas formada por veteranos da cena – e os retornos aos palcos de Fallen Angel (foto), P.U.S. (pela primeira vez no festival) e Totem, do hilário vocalista Régis Véi.

 
Confira um vídeo resumo do Porão do Rock 2018:

Confira vídeos com trechos de shows + entrevistas feitas pelo Cult 22: www.facebook.com/cult22/videos/2259569664262318

Álbum de fotos: Lyanna Soares

Álbum de fotos: Octávio Schwenck Amorelli