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It´s only Rolling Stones…

Rolling Stones - Rio 2016 - 3

Por Marcos Pinheiro
Fotos: AFP, G1, Rolling Stone e UOL

Rio de Janeiro – Os fãs mais radicais dos Rolling Stones ficam furiosos com a “preguiça” na escolha do repertório. E eles têm razão. Das 19 músicas tocadas a cada show nessa turnê 2016 pela América do Sul – em alguns foram 18 -, 14 se repetem… e praticamente na mesma ordem! Nas seis apresentações até aqui – leia-se Santiago, Ciudad de La Plata (três vezes), Montevidéu e Rio de Janeiro -, só mostraram 33 diferentes. Indo mais além: segundo levantamento publicado pelo jornal “O Globo”, nas vindas ao Brasil desde 1995 (incluindo 1998, 2006 e agora), 11 músicas estiveram presentes em todos os set lists.

Números que chegam a ser constrangedores para uma banda com 54 anos de estrada e 22 discos de estúdio, fora os vários singles, coletâneas e registros ao vivo. O Pearl Jam, com quase 30 anos a menos de “rodagem” e apenas 10 álbuns, faz uma reviravolta total no repertório a cada palco que pisa – sejamos justos, Eddie Vedder & cia são uma honrosa exceção no universo “mainstream”. De cabeça dava pra citar várias músicas excelentes que ficaram de fora do show realizado sábado passado (20/2) no Maracanã, Rio de Janeiro, para público calculado em 66 mil pessoas: “Street fighting man”, “Mixed emotions”, “Ruby tuesday”, “Get off of my cloud”, “Wild horses”, “Beast of burden”, “Rocks off”, “Waiting on a friend”, “Let´s spend the night together”, “Love is strong”… Verdade que algumas dessas pintaram nas outras cidades sul-americanas – e podem ainda aparecer nos shows em São Paulo (nesta quarta e sábado, 24 e 27/2) ou em Porto Alegre (2/3).

Rolling Stones - Rio 2016 - 2Mas, recorrendo ao que já escrevi sobre Paul McCartney em sua passagem por Brasília (novembro de 2014), os Rolling Stones são mestres que se repetem… e não enjoam. Bastam aqueles “velhinhos” entrarem em ação para qualquer crítica ranzinza cair por terra. Rusgas do passado (e rugas) a parte, os caras ainda sentem tesão no que fazem. E isso fica perceptível a cada olhar, a cada riff de guitarra da dupla Keith Richards-Ron Wood, a cada batida de Charlie Watts e, claro, a cada rebolada e sacudida de Mick Jagger, verdadeiro fenômeno de energia, agilidade e longevidade aos 72 anos – faz 73 em julho! Todos escudados por eficiente time de músicos onde se incluem backing vocals, teclado/piano, naipe de metais e o baixista convidado (há mais de 20 anos) Daryl Jones. Emocionante é o mínimo que se pode dizer de um show com quase 2h20 de duração, que começou com 20 minutos de atraso (por volta das 21h50) e foi até 0h10 – 23h10 já com o fim do horário de verão.

Da mesma forma que faltaram muitas canções, “sobraram” algumas, para mim dispensáveis. Casos de “Out of control” e “Doom and gloom”, curiosamente as duas mais novas do repertório apresentado – a primeira é de 1997 (do álbum “Bridges to Babylon”) e a segunda de 2012, incluída na coletânea “Grrr”. Se embarcasse na onda radical, “jogaria fora” também “Miss you” e seus “uh-uh-uh-uhs” chaaatos e intermináveis. Até mesmo (heresia!) “Satisfaction” poderia ficar na reserva – em 1995, no mesmo Maracanã, foi sensacional… mas agora soou enfadonha. Também nunca curti muito “Angie”. Enfim, gosto é gosto.

Rolling Stones - Rio 2016Em compensação consegui ver/ouvir “Like a Rolling Stone” pela primeira vez de um jeito, digamos, mais próximo do original – algo que não rolou com seu próprio autor, Bob Dylan, nos shows dele que assisti em 1990 e 2012. Maravilhoso também presenciar novamente “Paint it black”, “Honky tonky women” e “Sympathy for the devil”, três das minhas prediletas no repertório stoneano. Foi lindo também sacar a emoção das meninas do coral da PUC do Rio introduzindo a climática – e maravilhosa – “You can´t always get what you want”.

Mas os dois momentos mais “arrepiantes” foram com “Gimme shelter”, batismo de fogo da nova backing Sasha Allen – substituta da veterana Lisa Fischer -, em duelo de vozes com Mick Jagger; e na impressionante performance de “Midnight rambler”, blues pesado, arrastado, sem refrões e longo, onde Mick conseguiu levar o público com maestria enquanto Keith e Wood esmerilhavam as guitarras. Uma prova viva que, apesar das “concessões”, os Stones conseguem se manter fiéis às raízes.

No mais, vi o show do setor lateral direito à Pista Premium batizado de Cadeira Maracanã Mais Leste. Fiquei sentado por duas horas enquanto esperava a atração principal e não peguei nem uma gota da chuva que castigou grande parte do público durante o Ultraje a Rigor – que merecerá um texto a parte misturado com a apresentação do Camisa de Vênus, sexta-feira (19), aqui em Brasília. Dois exemplos de rock nacional anos 1980 indulgentes e indigentes.

Rolling Stones - Rio 2016 - set list

2 comentários sobre “It´s only Rolling Stones…

  1. Bem, na minha visão de quem não é um historiador da banda, eu achei esse um dos shows mais marcantes da minha vida. O setlist foi irretocável, com várias sequências matadoras, chegando ao ápice no final com uma estarrecedora versão de Satisfaction que sacudiu até mesmo quem tava cansado depois de 2h10min de show. Mas JJ Flash, Sympathy For The Devil, Miss You (que adoro), Gimme Shelter, You Can´t Always Get, Brown Sugar e uma maravilhosa versão de Paint It Black, tudo isso foi fodástico. Emocionante demais. Sem falar de Like a Rolling Stone.

    Assisti ao show da Pista Premium e o som estava impecável de lá. Adorei a abertura com Start Me Up e fiquei de verdade tocado e emocionado com o quanto que esses caras mantêm o pique físico e técnico. O Ron Wood em Midnight Rambler gastou tudo o que tinha. Eles são muito simpáticos e carismáticos. E talentosos de sobra.

    Eu discordo um pouco da necessidade de mudar o repertório. Metallica e Pearl Jam não são parâmetro, ainda que mantenham uma base de hits que ocupa pelo menos metade dos seus shows. Iron e AC/DC não mudam uma virgula e nem por isso o show é ruim ou repetitivo. U2 troca duas musicas no máximo e também é épico. Acho que quem quer ver os Stones, quer ver os hits, sem frescura ou agrado para fãs de carteirinha. Shows com essa pegada alternativa, no meu entender, só devem ocorrer quando os caras já tocaram tipo dez vezes na mesma cidade ou país na mesma turnê. Aqui no Brasil é sempre como se fosse a última e única apresentação da vida de quem se bate pro estádio. Seria muito injusto privar as pessoas de qualquer um desses clássicos em prol de outras menos cotadas, ainda que igualmente lindas.

    Em suma, eu ficaria extremamente decepcionado se fosse ver um show dos Stones (certamente pra maioria das pessoas que tava ali era o primeiro e provavelmente último show dos Stones que viram na vida) e os caras tocassem um monte de lados Bs. A única musica que eu descartaria era a nova, que você citou. Mas Out Of Control também caiu muito bem, na minha modesta opinião.

    Já tinha visto os Stones duas vezes (em 2003, na França, e o show de Copacabana) e essa foi a melhor apresentação. De looonge.

    Tomei chuva na entrada, mas depois parou. Saí de alma lavada do estádio.

    Coisas que só o rock faz com a gente. Saí de lá com todas as minhas expectativas superadas de longe.

    Pena que dessa vez não nos encontramos.

    Abraços, companheiro.

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