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Um mestre que se repete, mas não enjoa

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Por Marcos Pinheiro
Fotos: Marcos Hermes/Divulgação

Quem teve a oportunidade de assistir a pelo menos um dos vários shows que Paul McCartney vem realizando pelo Brasil nos últimos quatro anos já conhece de cor os “truques cênicos”. A música dedicada à mulher Nancy (My Valentine); o palco que se eleva na dobradinha Blackbird / Here today; as projeções no telão de bonecos infantis em All Together Now; a homenagem ao “amigo George” em Something; as explosões feéricas e a queima de fogos de artifício em Live and let die; o coro coletivo de “Na-Na-Na-Na” em Hey Jude; o desfile com as bandeiras da Grã-Bretanha e do Brasil na volta para o primeiro “bis” (antes de Day tripper); a chuva de papel picado após a trinca Golden Slumbers / Carry That Weight / The End, que encerra a longa apresentação, de contadas 39 músicas e 2h45 de duração… Até mesmo o set list não muda muito, com praticamente a mesma ordem de canções. Isso sem contar com a sempre simpática presença do ex-Beatle usando uma “cola” escrita no papel para conversar em português com o público e usar algumas gírias locais.

paul_mccartney_bsb_show_fotos_a_marcos_hermes-16O show de ontem à noite (23/11), no Estádio Mané Garrincha – o primeiro dele em Brasília -, não fugiu ao roteiro. Mas nem por isso deixou de ser (muito) emocionante, mesmo para os que já tinham visto antes – eu, por exemplo, estive nas apresentações do Morumbi (São Paulo), em novembro de 2010, e Serra Dourada (Goiânia), em maio do ano passado. Não tem como não vibrar e cantar junto com aquele senhor de 72 anos que tem uma fábrica de sucessos em suas composições e um carisma e energia realmente encantadores. Em vários momentos foi difícil conter as lágrimas. “Estamos finalmente em Brasília”, arriscou no português, para delírio de mais de 45 mil pessoas. “Aqui tá bombando”, gritou “sir” McCartney, provocando risadas e aplausos.

O atraso de quase 1h10 para o início, provavelmente causado pela persistente chuva que caía desde o meio da tarde, irritou parte do público, que chegou a vaiar. Mas bastou Paul e banda entrarem em cena, por volta das 21h10, aos acordes de Magical mistery tour para os ânimos mudarem de lado. A canção, aliás, foi a única que ele tocou pela primeira vez no país nessa nova turnê – nos dois shows anteriores, em Cariacica (ES) e Rio de Janeiro, a abertura foi com Eight days a week. Daí em diante, o repertório seguiu “conforme o previsto”, com exceção de uma homenagem instrumental a Jimi Hendrix antes de Let Me Roll It. Quatro músicas do novo disco, New, foram mesmo apresentadas: Save us, New, Queenie Eye e Everybody Out There.

paul_mccartney_bsb_show_fotos_a_marcos_hermes-7The Long and Winding Road foi o primeiro grande momento de comoção seguido por Maybe I’m Amazed. As luzes brancas dos celulares passaram frequentemente a colorir arquibancada, cadeira e pistas. Quando o palco se eleva, Paul, sozinho na voz e violão, ataca com Blackbird, para mim uma das mais belas canções dos Beatles – nessa eu choro, não tem jeito. Em seguida vem Here today, dedicada a John Lennon. A partir de Eleanor Rigby, o show entra numa espiral de alta, uma sequência matadora que inclui Something (introduzida por Paul tocando ukelele), Band on the Run, Back in the U.S.S.R., Let It Be, Live and Let Die, Hey Jude… Até mesmo a bobinha Ob-La-Di, Ob-La-Da diverte em meio a tantas grandes canções.

Após Day tripper e Get back, o primeiro “bis” é fechado com I Saw Her Standing There, simplesmente a primeira música do primeiro discos dos Beatles, Please, Please me (1963). Salvo engano, Paul nunca a tinha apresentado no Brasil nas quatro vindas recentes, só mesmo nos shows de agora. Já o segundo “bis” começa com a indefectível Yesterday, mais uma cantada em coro pelo público. E segue com a sensacional Helter Skelter, na minha opinião um protótipo de heavy metal, gravado em 1968 no chamado “Álbum Branco”. E aí a maratona se encerra com a trinca de músicas que também encerra o disco Abbey Road, de 1969. O saldo final foram 26 canções dos tempos de Beatles, cinco dos Wings e oito da carreira solo. Tecnicamente falando, achei que faltou mais pressão no som na Pista Premium – sabe aquela sensação da música batendo no peito? Fico imaginando o quanto isso pode ter afetado para quem estava na arquibancada e nas cadeiras…

paul_mccartney_bsb_show_fotos_a_marcos_hermes-8Com o corpo molhado de suor e da chuva – apesar de vestir uma capa de plástico -, saí em êxtase por ter me encontrado pela terceira vez com o mestre da música que revolucionou o pop/rock nos últimos 50 anos. Que mais shows como esse possam ocupar (e justificar) o monumental e faraônico estádio brasiliense! Que venham os Rolling Stones, objeto de desejo do novo governo local que assume em janeiro. Ficamos na torcida.

Paul McCartney em Brasília
. The Magical Mistery Tour
. Save Us
. All My Loving
. Listen to What the Man Said
. Let Me Roll It
. Paperback Writer
. My Valentine
. 1985
. The Long and Winding Road
. Maybe I’m Amazed
. I’ve Just Seen a Face
. We Can Work It Out
. Another Day
. And I Love Her
. Blackbird
. Here Today
. New
. Queenie Eye
. Lady Madonna
. All Together Now
. Lovely Rita
. Everybody Out There
. Eleanor Rigby
. Being for the Benefit of Mr. Kite!
. Something
. Ob-La-Di, Ob-La-Da
. Band on the Run
. Back in the U.S.S.R.
. Let It Be
. Live and Let Die
. Hey Jude

Bis 1
. Day Tripper
. Get Back
. I Saw Her Standing There

Bis 2
. Yesterday
. Helter Skelter
. Golden Slumbers / Carry That Weight / The End

2 comentários sobre “Um mestre que se repete, mas não enjoa

  1. Oi! Que show maravilhoso, vi pela primeira vez! Da metade do show pro final o som melhorou pra galera das cadeiras superiores que estavam exatamente em frente pro palco, ainda que usando o recurso da mão nos ouvidos criando uma conchinha pra receber freqüências mais agudas e médias! Foi muito emocionante! Inesquecível! Valeu muito! Abraço Marcos!

  2. Realmente foi maravilhoso! Estava esperando você colocar esse post para dar minha opinião. Não fui ao show em Brasília, mas fui na apresentação do Rio na HSBC Arena e foi espetacular. Nunca tinha visto algo assim. Paul contagia as pessoas, passa sua vibe a cada música que canta e para mim, que fui a muitos shows nesse ano, posso dizer que foi um dos melhores do ano, mesmo tendo visto shows de bandas de diversos estilos. Nunca tinha sentido algo mágico, divertido e legal desde o show do U2 em 2011. Excelente apresentação do Paul no Brasil. Só mais alguma coisa: do jeito que o GDF tá endividado, dificilmente os Stones se apresentarão em Brasília. No show que ia ter em março, foram confirmadas apenas RJ, SP, BH e POA. Acho que no segundo semestre do ano que vem, essas cidades continuarão como as que cediarão os shows de sua última turnê. Quem quiser vê-los, terá de ir pra um desses estados.Não acredito mais em um show internacional de grande porte do tipo AC/DC ou Stones em Brasília. É melhor se contentar com Joss Stone, Slash e, talvez, Bob Dylan novamente.

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