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R.E.M. – Rock, emoção e messianismo

Ao contrário da Lei de Murphy em que uma coisa ruim pode ficar ainda pior, na “lei do rock” algo sensacional pode se tornar absolutamente inesquecível. Dois dias depois da memorável apresentação do Jesus and Mary Chain, fui ao Via Funchal (10/11) conferir a nova turnê do R.E.M.  Se no Festival Planeta Terra eu esperava receber credencial de imprensa – e não consegui -, o contrário aconteceu na casa de shows paulistana. Ironias do destino…

Sinceramente, não me arrependeria em nada se tivesse pagado os absurdos R$ 200 cobrados pelo ingresso de pista. Para começar, sou fã da banda há exatos 20 anos – desde o álbum Green, o primeiro a ser lançado oficialmente no Brasil. Além do mais, no Rock in Rio 3 saí falando para os amigos que, após o R.E.M., não precisava ver mais nada, tamanha a empolgação em que fiquei naquela noite de 13 de janeiro de 2001. Claro que assisti a vários outros shows bacanas. Mas, no nível da banda de Michael Stipe, para mim, naquele festival, apenas o lendário Neil Young.

Diante disso, e de ter gostado também do mais recente álbum, Accelerate, decidi ficar mais em São Paulo, embora só tivesse a resposta do credenciamento três dias antes. Por volta das 21h já estava no Via Funchal, infelizmente a tempo de ver a inexplicável abertura do mineiro Sideral, ele mesmo, o irmão do Rogério “Jota Quest” Flausino. O som parece um cover em família. Após ouvir uma letra autoral que rimava “Maria” com “coloria” e versões (acreditem!) para Led Zeppelin (Stairway to Heaven) e Raul Seixas (Maluco Beleza), entre outras “pérolas”, a morte seria muito mais suave.

Às 22h20, com a galera já impaciente, soaram os primeiros acordes da nova Living Well is the Best Revenge… e aquele show sensacional de quase oito anos atrás, a partir daí, literalmente virou “do passado”. Uma coisa é assistir em meio a uma multidão de, sei lá, 100 mil pessoas, grande parte formada por “curiosos”, numa arena gigante. Outra é estar ao lado de quase 10 mil fãs, cantando tudo, dos hits às canções mais obscuras, numa casa fechada e com acústica apropriada, acompanhado por um telão de alta definição, alternando imagens ao vivo e pré-gravadas.

Além da interatividade ser muito maior, Michael Stipe é – e sempre foi – um “maestro”, um performer que sabe comandar a platéia com gestos simples. Tem classe, grande presença de palco e excelente e conservada voz, que não desafina em momento algum – e olha que ele não poupa nos agudos! Chega a ser quase messiânico como Bono Vox, sem certos exageros do líder do U2. Para os fãs, porém, foi um verdadeiro culto.

As músicas e letras dispensam maiores apresentações. Lirismo e poesia se misturam ao discurso social e político. O público, totalmente cúmplice, saúda a eleição de Barack Obama, do qual Michael Stipe foi confesso “cabo eleitoral”. Ele demonstra felicidade e esperança em dias melhores para os Estados Unidos e o resto do mundo, com o fim da “era Bush”. E parodiou, no telão, o título de um dos discos mais conhecidos do R.E.M., na frase “Obamatic for the people”, usada durante a campanha do candidato democrata à presidência.

Após mais de 25 anos de estrada, 14 álbuns lançados e milhões vendidos, fica muito difícil para qualquer banda organizar um repertório que agrade a todos. Eu poderia citar diversas músicas que faltaram, para meu gosto: Finest Worksong (com a qual abriram o show no Rock in Rio), Stand, Pop Song´89, Radio Free Europe, Leaving New York, Driver 8, Bang and Blame, Crush with Eyeliner, Daysleeper e (por que não?) Shinny Happy People. Mas que em nada comprometeram o privilégio em assistir ao vivo uma das bandas de rock mais honestas e talentosas de todos os tempos.

Assim, chorei feito menino ouvindo Imitation of LifeEverybody Hurts. Vibrei com o resgate de Orange Crush, primeira música do R.E.M. a tocar em rádio no Brasil. Ri quando apareceu no telão, escrito num papel, em bom português, “vocês querem mais?”. E conheci algumas músicas mais obscuras como (Don’t Go Back To) Rockville (do segundo álbum Reckoning, de 1984), cantada pelo baixista Mike Mills no bis – que, aliás, começou “matador” com o novo hit Supernatural Superserious e a velha Losing My Religion, fechando com a bela Man on the Moon. Para se despedir, Michael Stipe fez média com o público, lembrando que estava tocando pela primeira vez na cidade e elogiando a beleza das pessoas e do país.

Praticamente duas horas de apresentação, exatas 25 canções, um mix de variados momentos da carreira. Ficou o gostinho de “quero mais” e a certeza de ter assistido a um dos melhores (o melhor?) shows do ano. Tive um fim de semana de derramar lágrimas. Sem medo de ser feliz!

Confira o que o R.E.M. tocou na segunda-feira (10/11):
Living Well is the Best Revenge
I Took Your Name
What’s the Frequency, Kenneth?
Fall on Me
Drive
Man-Sized Wreath
Ignoreland
Hollow Man
Imitation of Life
Electrolite
The Great Beyond
Everybody Hurts
She Just Wants To Be
The One I Love
Sweetness Follows
Let Me In
Bad Day
Horse to Water
Orange Crush
It’s The End of The World As We Know It (And I Feel Fine)
Bis:
Supernatural Superserious
Losing My Religion
Animal
(Don’t Go Back To) Rockville
Man on the Moon

8 comentários sobre “R.E.M. – Rock, emoção e messianismo

  1. E no Rio, se faltou público e “Fall on me” no repertório, rolaram “Driver 8″ e SEIS músicas do melhor disco da banda, “Automatic for the people”, inclusive “Nightswimming” – com direito a selinho do Michael (Stipe) no outro Michael (Mills) – além de “Ignoreland” (impressionante como essa música, a mais fraquinha do disco, cresceu ao vivo).

    Ao contrário de 9 entre dez de seus contemporâneos, Michael Stipe está vivo, quicando e passa bem.
    Os fãs também.

  2. Sim, o show do Rio foi do caralho. A arena, que tinah espaço pra 4 mi lpessoas, ficou longe, muito longe de lotar. Devia ter 2,5 mil ou 3 mil no maximo. Foi um show lento, como é um show do REM, oscilante no ritmo (depois de uma porrada, uma lenta), mas, nem por isso, maravilhoso. Adorei mesmo.

    Agora, a galera, é fato, só empolgou nos cinco (na verdade, seis, porque eu nao imaginava que todo mundo conhecia “Immitation Of Life”) hits banda: E. Hurts, Losing My Religion, End Of The World, The One I Love e, é claro, Man On The Moon. O resto do show, repito, foi ótimo, mas interação zero.

    Sobre a comparação com Bono, sou muito mais o M. Stipe, que não tem uma fissura por holofotes como o U2, é muito mais discreto, passa o recado e nao precisa de um palco com bolas iluminadas, shows pirotécnicos e nada disso pra fazer um puta swho. Fiquei com a impressao que, em Brasilia, ele poderia ter tocado ate no ginásio do Iate que daria muito certo.

    De lição, pra mim, fica o preço absurdo que nego ta cobrando de todas as bandas. Tem alguém com erro de avaliação por aí. Uma coisa é cobrar R$ 250 na Madonna, U2 e outras bandas que sabidamente vao arrastar multidoes. Outra é cobrar R$ 200 de uma puta banda, mas que esta longe de ser do mainstream e que, no senso comum, as pessoas so conehcem uma musica. Os fãs que adoram a banda estavam lá, mas com certeza muita gente que gosta e curte a banda desde sempre nao teve condiç~eos de desembolsar a fortuna.

    Abssss

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