Blog voltar
|

Cobertura especial: Pitchfork Music Festival 2011

Coisa fina: o Cult 22 ganhou um (momentâneo) correspondente internacional. O jornalista-músico-e-DJ Ivan Bicudo esteve em Chicago para gravar o novo disco da Nancy com o produtor/multiinstrumentista John McEntire (Tortoise/The Sea and Cake). Coincidência ou não, a banda ajustou a viagem para o período de realização do Pitchfork Music Festival (15 a 17 de julho). E nós aproveitamos para explorar o Ivan um pouquinho. Eis o relato:

Pitchfork Music Festival: eu já gostava bem antes dele ficar famoso

Por Ivan Bicudo

Há alguns anos o site Pitchfork começou a organizar um festival em julho na cidade de Chicago, nos EUA. É verão, faz muito calor e o Union Park enche de shortinhos e hipsters embigodados. No que diz respeito à estrutura, o festival é bastante similar ao que vemos por aí: três palcos, bar e junk food, barracas de merchandising. O grande diferencial do festival da Pitchfork é a seleção das bandas e a sua importância para o público indie.

Começando pelas bandas que encabeçam as listas dos três dias do evento deste ano: Animal Collective, queridinha dos indies e que fez um show horroroso no Festival Planeta Terra de 2008, em São Paulo; Fleet Foxes, heróis da nova geração de folk rock americano; e TV On The Radio, banda cool de Nova York. Nenhuma delas seria atracão principal em grandes festivais, mas têm lugar de destaque no Pitchfork. E essa posição é trampolim para subir no conceito do grande público.

Veja o exemplo do Odd Future, grupo de hip hop maluco que fez o melhor show do domingo. Sob o sol de quase 40 graus, Tyler The Creator, de muletas e gesso, gritava suas barbaridades com um baixo sub-grave bombando entre batidas esparsas: “KILL PEOPLE, BURN SHIT, FUCK SCHOOL! I’m a radical, I’m a motherfucking radical!”. O refrão da música “Radicals” resume bem o conteúdo ‘lírico’ do Odd Future, que inclui estupro, violência e assassinato, pontuados com palavrões. Após soltar essa péola intraduzível, o cara pula no meio da muvuca – de gesso e tudo. A galera vai ao delírio. Canta tudo junto, dança e se acaba.

Animal Collective em alta resolução
O Animal Collective se apresentou com um cenário de papel crepom estilo filme de baixo orçamento (foto à direita), tudo pra conquistar os “psiconautas” da plateia. E não são poucos. A rapaziada entra em transe com a mistura de sons eletrônicos com timbres orgânicos. Parece que a música é só parte da diversão.

O show foi muito melhor do que a porcaria que eles apresentaram no Planeta Terra há três anos, com som problemático, música chata e a postura sonolenta dos três caras que faziam pouco mais do que operar aparelhinhos. Desta vez, com o quarteto completo – o guitarrista Deakin estava em ação -, eles fizeram um show sonoramente agressivo e empolgante, com sensação de uma banda de rock de verdade. Muito material novo. Do último disco só tocaram “Summertime Clothes” e o hino-timbalada “Brothersport”.

Fleet Foxes e a vingança do folk
“Tocamos aqui em 2008”, disse Robin Pecknold, vocalista do Fleet Foxes, lá de cima do palco. “Éramos uma banda pequena, mas foi um ótimo show”, lembrou. “Logo depois entrou o Dizzee Rascal e disse ‘foda-se essa merda de folk!’”. Risadas.

A melodia delicada hipnotiza a plateia. O gramado está completamente tomado e não se ouve qualquer ruído capaz de quebrar o encanto dessa banda sobre os presente, tocando contra o vermelho pôr-do-sol.

Os Fleet Foxes (foto abaixo) são heróis do folk rock. Acabaram de lançar o segundo disco, “Helplessness Blues”, depois de alcançar um sucesso monstruoso com o primeiro. Trata-se de uma banda que traz um vagão de influências para alcançar um folk barroco, com harmonias vocais belíssimas. O show tem uma onda de experiência religiosa, de contemplação e sentimento à flor da pele. A banda ainda é inexperiente; nota-se pelo andamento inconsistente em algumas passagens e erros aqui e ali, porém o talento se sobrepõe às imperfeições e dá pra entender claramente o lugar da banda ali, fechando o palco de sábado.


É evidente que em um festival desse tamanho vai haver muitos bons momentos. Confesso que perdi alguns artistas que queria ter visto, mas do que consegui ver com os olhos e ouvir com os ouvidos, ainda destaco os seguintes:

Deerhunter (foto abaixo) – Delírio guitarrístico em alto volume, com direito a injeção de “Horses”, da Patti Smith, no final de “Nothing Ever Happened”. Ficou fera.

 

TV On The Radio – Fechou o ultimo dia de festival. É uma super banda e os caras cantam muito. Tocaram muito material do disco novo, “Nine Types of Light”.

Guided By Voices (foto abaixo) – Banda original, Bob Pollard velhão com uma mão no microfone e a outra alternando entre o cigarro e uma garrafa de tequila ouro, tocando os clássicos do “Bee Thousand”. Preciso dizer mais?

Neko Case (foto abaixo) – A ruiva gata da country music e do New Pornographers, com uma voz sobrenatural. Show tranquilo no fim da tarde, muito gostoso.

Kylesa – Stoner metal em volume alto. Laura Pleasants (foto abaixo), a guitarrista loira é uma gata, toca pra cacete, bate cabeça e canta com voz de monstro. Cuidado pra não se apaixonar.

Toro Y Moi – Vai tocar no Festival Planeta Terra desse ano. É divertido, toca um esquema disco funk anos 80.

James Blake – Garoto prodígio do Pubstep. Assustador.

Um comentário sobre “Cobertura especial: Pitchfork Music Festival 2011

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *

Você pode usar estas tags e atributos de HTML: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <strike> <strong>