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Em algum lugar do passado


Foto: Penny Lane (Rock Brasília)

O showbizz brasiliense viveu mais uma vez, na prática, como a falta de uma casa de espetáculos adequada compromete a realização de mais (e melhores) eventos internacionais na capital do país. Definitivamente o Ginásio Nilson Nelson não era o local certo para abrigar uma banda como o Simple Minds, que sumiu da grande mídia há mais ou menos 15 anos. Resultado: menos de duas mil pessoas foram ontem (21/8) à noite ao terceiro show da turnê nacional dos escoceses – que se encerra hoje, em Porto Alegre, após passagens por São Paulo e Rio de Janeiro.

A apresentação teve início às 22h15 e encerramento por volta das 23h40. Durante 1h25, eles tocaram apenas 15 músicas, onde tentaram resumir os 30 anos de carreira. O set list pecou pela falta de músicas importantes, como explicaremos a seguir.

Curiosamente, a área VIP, com ingressos a R$ 150 e open bar, parecia mais cheia que a chamada “pista comum”. Até aí tudo bem, se a turma do gargarejo fosse formada por verdadeiros fãs da banda. Não era o caso. Como amante de música, sobretudo de rock, me incomoda demais assistir a um show em que as pessoas estão lá mais para “fazer social” do que pelo que rola no palco.

Pode ser implicância minha, admito. Mas o fato é que a grande maioria dos presentes só queria esperar pelos três grandes “hits” (Mandela day, Don´t you (forget about me) e Alive and kicking) e pouco se importava com o resto. Além do mais, tratava-se de um público em geral com mais de 35 anos, obviamente sem a mesma energia adolescente.

Se a plateia era pouco entusiasmada, o Simple Minds também não ajudou muito. Primeiro porque, comercialmente, os caras não colecionaram muitos sucessos no mercado brasileiro. Depois de Mandela Day (que é de 1989!), nenhuma outra canção deles fez sucesso por aqui – talvez só Hypnotised, de 1995. Além disso, Jim Kerr parece envelhecido e cansado. Mesmo muito simpático, acenando sempre, fazendo os elogios e discursos de praxe e até tentando fazer o povo cantar junto, só conseguiu criar alguma catarse nos três “hits” citados. Uma pálida imagem do ótimo band leader de grande arenas do passado. Os músicos são competentes e o velho parceiro Charlie Burchill é um guitarrista “ok”. Destaque para a cantora negra Sarah Brown no backing vocal e em alguns momentos solo.

Para piorar, o set list, como antecipamos, careceu inexplicavelmente de outros sucessos menores, mas importantes, dos anos 1980 como Glittering prize, Promised you a miracle, All the things she said, Speed your love to me e até Ghostdancing (que eles tocaram em São Paulo, mas também ficou de fora no Rio). Uma pena. Do disco mais recente, Graffiti Soul, eles mandaram três: Stars will lead the way, Moscow underground e, já no bis, Rockets.

Como escrevi ontem, fui ao show como fã do passado, mas com baixa expectativa. Logo, nem posso dizer que me decepcionei. Mas acho que teria me arrependido se tivesse pago para ver.

Set list em Brasília
Intro (Theme from great cities)
Sanctify Yourself
Stars Will Lead the Way
Waterfront
See the Lights
Big Sleep
Mandela Day
Moscow Underground
Hypnotised
Someone Somewhere in Summertime
Once Upon A Time
One Step Closer
Don´t you (forget about me)
Bis
Let There Be Love
Rockets
Alive and Kicking

9 comentários sobre “Em algum lugar do passado

  1. pinheiro disse tudo:
    “Como amante de música, sobretudo de rock, me incomoda demais assistir a um show em que as pessoas estão lá mais para “fazer social” do que pelo que rola no palco.”
    por isso nao frequento mais esse tipo de trozo.
    com patricias e mauricios berrando nos celulares
    e aprovetando os hits para “filmar” com suas makinas fajutas
    que se explodam.
    por isso vou ver os pixies em buenos aires.
    e pa* no c* de itu. com todo o respeito.

  2. Justamente por antecipar que seria como você descreveu, nem me dei ao trabalho. O A-ha tem bem mais hits e achei sem graça. Minhas economias irão só para dois shows esse ano, Green Day e Cranberries.

    Marcos Pinheiro, adorei o set que vc tocou na festa Pulp ontem, legal demais! Isso sim foi bem melhor que essas turnês caça-níqueis hahaha… Torcendo para que um dia Strokes se aventure por aqui.

  3. Queria muito ir. Refuguei ao pensar em tudo o que o você escreveu. Uma pena. Ao menos economizei R$ 80. Não pagaria R$ 150 para ver um show de rock ao lado dessa gente que bem descreveu. Tenho muito preguiça de área VIP.

  4. Definitivamente precisamos de uma casa para shows pequenos e médios.
    Parece-me que em São Paulo, na Via Funchal, foram 3 mil pessoas, que é mais ou menos a capacidade do local.
    Aqui, o Nilson Nelson ora fica pequeno, ora fica grande demais.

    E corroboro com o Marcos quanto esse povo que vai aos shows para tirar foto e dizer: “Mamãe, eu fui a um show internacional”.
    De praxe, estão na área VIP.
    Por isso que quando vou de VIP costumo ficar mais atrás, quase na grade que divide a prêmium da pista comum.

  5. Eu estava em Fotaleza mes passado e ao conversar com a vocalista de uma banda ótima de lá chamada Eletrocactus (sobre a recepção do público de brasilia), eu disse a ela algo próximo.
    Que em Brasília se a banda dela se apresnetasse, poderia ter um público de 300 pessoas mais ou menos, mas as 300 pessoas iriam ir lá para ve-los, para prestar atenção na banda e nao para passar o tempo, como em um show do jota quest.

    Eu presenciei isto no Porao do Rock do ano passado quando o publico presente não era o publico de Porão que acabou espantado prevendo que isso aconteceria (e aconteceu).
    Prova foi o esvaziamento após o show tributo a Legião e o quanto ficou para o aguardado show do Little Quail.

    Eu como vc, tambem fico indomodado com tal atitude.
    Alias este tema por si so ja daria um texto interessante.

  6. Certa vez fui a um show do Patu Fu e tinha um idiota na platéia que toda hora gritava: “Fernanda, olha pra cá!” Ele queria uma foto bem nítida – o prego. Ainda bem q ela ñ olhou!!!!!

  7. concordo com os comentários , realmente o acesso a tais espetáculos é muitas vezes feito por quem nem é fã de verdade, uma injustiça da forma excludente da industria do espetáculo, me vi em várias situações como as descritas , mas tb não me privo de ir aos shows por isso…

  8. Só acho que é demais esperar que haja mais de duas mil pessoas em Brasília que conheçam algo além dos três hits (que eu na verdade reduziria a dois).

    Pistas VIP em shows pop são prato cheio pra gaiatos. Quando o som é mais pesado (ou nem isso, quando é mais específico), não tem gaiato pagando pra ver show internacional de algo “assustador” ou desconhecido na VIP. Fui na do Metallica e só tinha fã da banda lá. E o pau tava quebrando. Assim como no do Iron.

    De toda forma, reforço o coro dos que lamentam a ausência de um bom espaço pra esses shows aqui.

    Temo pelo Scorpions numa quarta-feira. Podiam fazer lá fora, que nem foi no Megadeth. Seria beeem mais legal.

    E Emilie, o Marcos Pinheiro sempre manda bem no som. Inspiração pra muita gente. Espero que tenha gostado da festa.

    Abs fraternos a todos e beijos a todas.

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